• sex. mar 29th, 2024

De menino refugiado a bilionário mais jovem da África

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Ashish Thakkar fugiu com a família de genocídio em Ruanda; hoje, tem conglomerado que opera em mais de 20 países e dirige fundação que ajuda pequenos empreendedores

Muitos empreendedores de sucesso superaram dificuldades para subir na vida, mas poucos passaram pelos mesmos horrores que Ashish Thakkar e sua família.

Thakkar, de 34 anos, é hoje o fundador e chefe do conglomerado Mara, que atua em mais de 20 países, a grande maioria na África.

Ele emprega 11 mil pessoas, é considerado o bilionário mais jovem da África e tem uma fundação que ajuda pequenos empreendedores, além de ser consultor da ONU e de vários países da África na área de empreendedorismo.

Mas, aos 12 anos, teve de fugir do genocídio em Ruanda com sua família.

Ele estudava em um colégio interno no Quênia, mas estava de férias e foi visitar a família em Ruanda, em 1994, um dia antes do assassinato do presidente do país – ele morreu na queda de um avião derrubado em um atentado -, que acabou dando início ao massacre que chocou o mundo.

Thakkar conta que nesse dia estava no Hotel Ruanda, que ficou famoso após o filme de Hollywood, mas apenas passando o dia, como turista. Mesmo após a morte do presidente, foi com a família para casa, porque todos achavam que os tumultos durariam um ou dois dias.

Alguns dias depois, porém, um tio chegou com integrantes de forças da ONU e levou toda a família de volta para o hotel, onde ele e outras cerca de 1.200 pessoas se refugiaram.

“Havia corpos na rua, barulho de tiros e explosões o tempo todo. Mas, por sorte, conseguimos sair de lá vivos”, diz ele.

“Isso me ensinou que há muitas coisas na vida, que a gente tem que devolver o que o mundo nos dá, e temos que garantir que uma coisa como essa nunca volte a ocorrer. Como eu, como indivíduo, posso garantir isso? Cada um tem que fazer sua parte, mesmo que pequena.”

Ao fugir, porém, seus pais perderam tudo o que tinham. Não era a primeira vez: eles já haviam tido que reconstruir a vida quando foram expulsos de Uganda – país vizinho a Ruanda – em 1972.

Naquele ano, o ditador Idi Amin expulsou mais de 50 mil pessoas de origem asiática (indianos, bengalis, paquistaneses ou cingaleses). Naquela ocasião, eles foram para a Inglaterra, sem nada.

O pai começou a trabalhar na fábrica da Ford em Leicester e a mãe em uma fábrica de batatas fritas. Juntaram dinheiro, abriram um negócio e envolveram os filhos no trabalho de forma lúdica. “Eles faziam como se fosse um jogo, nos davam objetivos, e isso tornava tudo divertido”, conta.

Depois de um tempo, eles resolveram se mudar para Ruanda – os pais repetiram esse estilo de jogos, conta, quando estavam no Hotel Ruanda, para que os filhos não sentissem tanto o horror do que estava acontecendo.

Mas, para Thakkar, o empreendedorismo de sua família e principalmente a forma positiva como lidavam com problemas o influenciaram muito para que entrasse no mundo dos negócios.

Após fugir de Ruanda, eles voltaram para Uganda.

Computador

A vida de Thakkar começou a mudar quando, após muita insistência, ganhou um computador dos pais.

Um dia, um amigo da família foi jantar e se encantou com o computador. Prontamente, Thakkar disse que tinha um aparelho extra e estava vendendo a máquina – o que era mentira. Deletou seus arquivos do PC e entregou o aparelho no dia seguinte, lucrando US$ 100.

Depois disso, convenceu os pais a deixarem que ele alugasse uma loja por dois meses, nas férias de verão, para montar um negócio. Conseguiu um empréstimo de US$ 5 mil e passou a revender equipamentos e acessórios para computador, como disquetes, que comprava em Dubai.

No fim das férias, não contou aos pais que as aulas haviam recomeçado – não queria voltar. Explicou que, mesmo se completasse os estudos, queria continuar trabalhando como empreendedor, e pediu que lhe dessem uma chance.

Os pais entraram em um acordo com ele: se o negócio não desse certo, ele teria que retornar no ano seguinte. “Mas não voltei até hoje”, conta.

Depois de convencer seus pais, passou a ampliar seus negócios. Em vez de importar equipamentos para vendê-los em Uganda, abriu um escritório em Dubai e começou a vender para empresas em vários países africanos.

Desde então, o grupo Mara se diversificou. Hoje abriga negócios variados, provê infraestrutura para empresas de telecomunicação, produz embalagens, têm bancos, hotéis, centros de conferência, shopping centers, fábricas de papel e milhares de hectares de terras usadas em agricultura.

Escola e apoio

Thakkar tem orgulho de ter deixado a escola – em seu perfil do Twitter, escreve, em sua descrição, que largou a escola. Mas isso significa que ele é contra a educação formal?

“Não. Acho que ela é extremamente importante. Mas também acho muito importante o ângulo da educação informal, de ter um tutor, um apoio”, conta. “Isso que fazemos na fundação.”

A Fundação Mara dá orientação e apoia a pessoas que estão começando seus negócios.

Tem como base, principalmente, Uganda, Tanzânia e Nigéria. Desde seu lançamento, em 2009, já ajudou mais de 160 mil pequenos empresários.

Outra coisa que aparece em seu perfil do Twitter é “refugiado”.

“Isso faz parte de mim todos os dias. Quando você não tem um país, você vê que não pode depender de Estados, que nós, como indivíduos, somos como o setor privado, temos que fazer algo também. Se empoderarmos as pessoas, se criarmos oportunidades para elas, muitas coisas, como o genocídio (de Ruanda), não aconteceriam”, afirma.

Fundação

Apesar de ser considerado “o bilionário mais jovem da África”, Thakkar, hoje com 34 anos, diz que o objetivo maior do seu trabalho não é enriquecer.

Ele afirma que gasta entre um quarto e um terço de seu tempo com a fundação e outros projetos no setor de políticas públicas.

Já a parte comercial de seu negócio – onde também trabalha toda a sua família – ocupa o resto do tempo. Ele passa 20 dias por mês viajando – sem jatinho particular – e diz que evita levar o assunto trabalho “para a mesa do café da manhã”.

Mas ele também aproveita sua fortuna: tem como hobby fazer paraquedismo e está inscrito no programa que vai levar os primeiros turistas a Marte.

“Estou fazendo treinamento e estou confiante que iremos logo para o espaço”, diz.

Ele afirma, porém, que ama seu trabalho e que seu sonho “é ver a África sustentável”.

“Eu tenho 34 anos, em agosto faço 35, e a Mara faz 20. Mas sinto que ainda não mudamos nada, somos uma gota no oceano. Agora que tudo vai começar.”

Fonte: http://economia.ig.com.br/

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