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Na Escola Municipal de Educação Infantil Dona Leopoldina, os pequenos alunos têm voz ativa

abr 7, 2016 #crianças, #escola, #projeto
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Na Escola Municipal de Educação Infantil Dona Leopoldina, os pequenos alunos têm voz ativa

Uma pista de triciclos e bicicletas – com direito a pequenos guardas para controlar o trânsito – circunda uma grande horta. De um lado, um gramado com árvores e brinquedos. Do outro, pista de carrinhos e parquinho sonoro. Ao fundo, uma quadra de futebol, com assentos feitos de tocos de árvores para que torcedores acompanhem as partidas completa a área de lazer.

Parece um parque, mas não é. É neste ambiente em que os 234 alunos da Escola Municipal de Educação Infantil Dona Leopoldina, na Zona Oeste de São Paulo, brincam, aprendem e se desenvolvem. Tudo feito com a colaboração direta dos alunos de 4 e 5 anos.

Em 2012, com a troca de direção, a escola passou a ouvir as crianças ao tomar decisões relevantes para a instituição. “A escola é feita para a criança, então nada mais justo que a criança ajude a pensar essa escola que é feita para ela”, afirma a coordenadora pedagógica, Iveline Zacharias. A forma encontrada para isso foi criar o Conselho de Criança, que se reúne quinzenalmente para discutir pendências e investigar reivindicações dos estudantes.

Mensalmente, todos os alunos se reúnem em uma assembleia no refeitório da escola para tomar conhecimento dos temas que mais preocupam a escola na ocasião. “A gente só puxa o assunto para que eles comecem a pensar”, afirma a diretora Márcia Harmbach. Mesmo dividindo os alunos em dois grandes grupos é impossível ouvir a todos. Por isso, eles ficam com tarefas para desenvolver com sua turma, onde todos podem se manifestar, e registram de alguma forma o que discutiram.

Após duas semanas de trabalhos em sala de aula, munidos de desenhos, músicas ou outros registros, dois representantes de cada sala – sempre um menino e uma menina – participam de uma reunião com a direção em que todas as ideias são apresentadas e novas reivindicações podem ser feitas. Como mostra o vídeo acima, durante a reunião, todos os representantes têm oportunidade de falar e as ideias podem se tornar realidade. “As crianças vão percebendo que podem recorrer a alguém. Esperamos que eles se sintam autores do processo e que sintam que podem falar, buscar alternativas e cobrar soluções quando é necessário uma intervenção maior”, disse a diretora.

Formando cidadãos

A experiência vai além de deixar a escola com cara de criança. A intenção é formar cidadãos melhor preparados para viver dentro de uma sociedade democrática. “Como se forma um cidadão que só estuda a cidadania no livro? Dentro de uma experiência que vai na contramão disso,  em que não há canal de participação, baseada em relações autoritárias, que é o que predomina na imensa maioria das nossas escolas?”, questiona a psicóloga e mestre em Psicologia Escolar pela USP Beatriz de Paula Souza. Segundo a especialista, ademocratização do ensino tem se popularizado, mas exige que a consulta aos alunos não seja somente demagógica, mas busque transformações.

Na Emei Dona Leopoldina, o protagonismo dos alunos não é vista somente no Conselho de Criança. Na hora do lanche da tarde, as crianças podem comer quando quiserem, as salas de fantasias e ateliê de artes – com muito material reciclado, canetinhas e lápis, tintas e colas – ficam destrancadas, mas não há bagunça. As crianças passaram a considerar o ambiente também como sendo deresponsabilidade delas. “A gente subestima muito a capacidade das crianças. Elas sabem o que querem, o que fazer, aonde querem ir”, afirma a coordenadora pedagógica.

O aprendizado não é apenas dos estudantes, mas também dos pais. Uma das primeiras decisões do conselho foi pelo fim da soneca. Com ensino em período integral, os alunos argumentaram que não queriam ser obrigados a dormir após o almoço, como acontecia. Após a discussão, mesmo com pé atrás de pais e professores, a soneca foi abolida.

“Quando os pais sabem o que acontece na escola, eles amam o projeto. Mesmo que por vezes fiquem desesperados com as decisões, como quando decidimos que as crianças poderiam subir em árvores ou quando acabamos com a soneca . Por isso, nós levamos as discussões do Conselho de Criança para o Conselho de Pais. E depois volta para as crianças. E eles se aprendem a respeitar”, afirma a diretora da escola.

O resultado é claro. Os pais passam a dizer que as crianças são maisreivindicadoras, dialogam mais e argumentam melhor. “As crianças se apropriam da oralidade e aprendem que através do dialogo conseguem se comunicar e mostrar seus desejos”, disse a assistente de coordenação, Simone Cavalcante.

Um desses desejos é, inclusive, continuar a fazer diferença nas escolas por onde passam. Márcia lembra com carinho de um ex-aluno que veio pedir que ela conversasse com a diretora da nova escola, já que a diretora “não conseguia resolver os problemas da escola”. “É muito gratificante, mas ao mesmo tempo ficamos até um pouco tristes, porque gostaríamos que todas as escolas tivessem o mesmo trabalho com as crianças”, afirma.

Fonte: http://epoca.globo.com/

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