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Pessoas do Bem fazendo o Bem

abr 29, 2016 #coldplay, #fazer o bem, #show
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Hoje, show do Coldplay no Maracanã, todos ansiosos pelo show e o pessoal imprensado próximo à grade, como de costume em qualquer grande show.

Eis que passa Bianca, vendedora de batata frita no cone, pelos poucos espaços que comportam os pés. Bem humorada, brincou dizendo que era a única que conseguiu chegar ali, para vender as 20 unidades que comprou para revender. E de repente TODOS os cones da bandeja caem e seu sacrifício de conseguir apenas R$2,50 de lucro em cada cone, vira um enorme prejuízo. Todos tomamos um susto com as batatas caindo sobre as pessoas sentadas esperando pelo show, com posterior descontração com o acidente.
Quando percebemos, Bianca estava desamparada, sem saber como arcar com todo o prejuízo. As lágrimas surgiam, mas antes mesmo de caírem, a solidariedade de todos em volta foi mais rápida; ajuda de todos os valores, desde moedas até notas de R$20, surgiam de todos os lados. A cada segundo chegavam doações que impressionavam a todos, e contagiavam.
Minutos depois a quantia de R$225 já havia sido ultrapassada, dando lucro maior que o esperado por Bianca. Ainda assim, as contribuições continuavam.
A insistência para que Bianca aceitasse as doações gerou um discurso emocionado dela, de que não poderia recusar, pela situação que passa atualmente.
No final, as lágrimas que surgiram por desespero, caíram de felicidade.
E quem veio para assistir a um espetáculo musical, acabando vendo um show de solidariedade e humanidade.
Que atitudes como essa, que impressionam, se tornem rotineiras.
Vambora que ainda tem outro show pela frente!

>>> RESPOSTA DE Bianca Leticia Vale EM 12/04 <<<

No Maracaña, freelance. Trabalho informal, exercendo por necessidade, sem direitos trabalhistas, sem segurança do que receberia o referente é por vendas, além da insegurança caso eu sofresse algum acidente corporal.
Eis que saio como ambulante para vender batatas. 20, sendo que as compro por 12,75 para revender por 15, tirando o lucro de 2,25 por unidade. Estádio cheio e preciso correr para vender antes que as batatas esfriem, pois o mínimo que poderiam trocar seriam cinco. Na atividade, devida minha malemolência infiltro-me na pista entre o público abarrotado contra as grades. Chego brincando dizendo que sou ninja, que ninguém mais conseguiria chegar ao mesmo local que eu, que a batata era light, e cara por ser de ouro… Usei do meu jeito extrovertido para interagir com as pessoas, tirando sorrisos e meu ganha-pão. Mas a cordinha de suporte da bandeja não era fixa e com o peso, inesperadamente tudo caiu ao chão numa chuva de batatas em cima das pessoas que estavam sentadas. Meu coração quase saiu pela boca por ficar sem jeito, além do desespero diante a imprecisão da procedência do prejuízo, porém quando meus olhos iriam se encher de água, varias eram as pessoas que estendiam as mãos com doações solidárias para me ajudar. Consegui recuperar o perdido e ainda cerca de 30 reais que um rapaz brincou para descontrair pedindo que eu sumisse e ‘’enfiasse o dinheiro na calcinha e varias mensagens carinhosas para que eu acredite no meus sonhos.
Estou muito surpresa, imensamente agradecida e feliz devido às pessoas terem me ajudado. Estive no lugar certo na hora certa, sorte talvez cativada por meu carisma, mas não são todos os trabalhadores que conseguem ter sorriso aberto. É difícil sorrir para o desconhecido quando somos invisíveis e exercermos trabalhos informais que não reconhece nossa força de trabalho e nos paga por batatas e não por quem devidamente somos e poderíamos ser.
No mesmo dia outro amigo de trabalho, Matielo, também perdeu batatas porque pessoas colocaram os pés na frente por ele ter passado na frente por alguns instantes do tão esperado show. É, infelizmente ele deu azar… Tive o conhecimento depois do que aconteceu comigo, mas a empresa se responsabilizou pelo prejuízo, coisa que eu não tinha conhecimento que poderia acontecer, ainda mais por haver um combinado paradoxal onde no final do trabalho poderíamos devolver apenas cinco batatas, ficando no prejuízo de todas as outras que pudessem sobrar. Imagine então eu, que tinha deixado cair VINTE. Realmente fiquei com dúvidas e sem chão, mas tive a sorte de ser acolhida.
Mas trabalhar freelance é assim, é um lance que pode render um espetáculo de humanidade ou a espetacularização da miséria, onde quem exerce o trabalho informal precisa ficar dependente da compaixão e empatia alheia. Não temos segurança a partir dos nossos esforços, que olha, não são poucos não! rs
Atualmente faço graduação à noite de produção e gestão de eventos e técnico em iluminação que só consigo cursar graças a programas de inserção social como PROUNI e o PASSE LIVRE UNIVERSITÁRIO, que, aliás, já participei de uma manifestação para que pudesse existir e até levei um choque por um teaser de um policial miliar, que também foi bastante repercutido, corri risco de vida para ter o mínimo necessário para poder sair de casa para estudar. Mas de qualquer forma não posso me dedicar apenas aos estudos e preciso me submeter a trabalhos precários, como vários outros brasileiros que muitas vezes nem estudar conseguem. Perco tempo, energia, desgastes emocionais e é latente que isso interfira em meu rendimento.
Espero que essa oportunidade de falar, que foi uma sorte, seja útil e possamos reconhecer que são os terceirizados, os trabalhadores informais que realizam grandes doações, mas por obrigação. Trabalham diariamente de graça por não ganharem devidamente correspondente à produção e suas vendas, por receberem por ‘’batatas’’ e não por quem poderiam ser se pudessem ter mais oportunidades e porque não, não recebem a partir de seus esforços, porque eles, que também são eu, não são devidamente reconhecidos.
E aqui estou, Bianca letícia Vale tendo a oportunidade, por mais que sejam por 2 dias, tendo lugar para falar e sair do invisível.
Da mulher invisível que constantemente é assediada,
da trabalhadora invisível que é explorada,
da mulher negra que perde a voz,
da pessoa que só existe servindo para que grandes espetáculos aconteçam.
Espero ser reconhecida com minhas composições autorais, como cantora, pintora, podendo atuar como atriz, que pretende ser produtora e gestora cultural, além de ministrar aulas nas áreas artísticas que promovam a inserção e protagonismo social aos desfavorecidos socioeconomicamente como eu, para que possam ser RECONHECIDOS e sair do invisível, sair da terceirização, da informalidade, da ausência de direitos, que não estão no palco e nem na platéia, mas nos bastidores só com a vassoura limpando o antes, o durante e o pós espetáculo.
Que possamos militar pelo reconhecimento das pessoas, pela inserção social, pelo prouni, pelo bolsa família, pelas cotas raciais e socioeconômicas, pelas bolsas de assistência estudantil, pela moradia estudantil, por podermos parcelar nossas compras, pela minha casa minha vida, pelo Hotel e Spa da Loucura com seu teatro que promove saúde mental, pela escola de arte e tecnologia Espetáculo, pelo fies e pelas crianças negras das periferias que são marginalizadas e merecem a oportunidade de viver.

Fonte: facebook.com

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