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Aluno com autismo conquista primeira graduação pela FAAO; “Sonhei e não desisti”

mar 22, 2019
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A mãe de Ivi, ao falar sobre a vitória do estudante, declarou: “A FAAO me ensinou o que é inclusão na prática”.

O filho do meio e o primeiro de uma família materna a concluir um curso de ensino superior, Ivi Fernando de Souza Moura, festejou neste domingo (17) a realização de um sonho. O rapaz de 19 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) desde a infância, formou em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) pela Faculdade da Amazônia Ocidental (FAAO).

Em uma cerimônia que reuniu familiares, amigos e admiradores, as emoções não puderam ser contidas. O dia do rapaz que mostrou a força que há no desejo de seguir em frente, mesmo com limitações, foi movido por muitos abraços, sorrisos, felicitações e até lágrimA conquista de Ivi aconteceu depois de uma história que merece ser contada.

Nascido em Cruzeiro do Sul, o segundo maior município do estado, Ivi é de uma família nuclear relativamente pequena. Na cidade, morava com o pai, a mãe e mais três irmãos, com quem viveu a maior parte da sua vida, até hoje.

A mãe do rapaz, Josiane Negreiro de Souza, disse em entrevista que quando o filho tinha apenas três anos de idade, ela começou a perceber alguns comportamentos “diferentes”. Fernando não atendia aos comandos verbais externos e tinha alguns movimentos repetitivos – o que os especialistas chamam de estereotipia.

Pela falta de profissionais da área de neuropediatria e neuropsicologia na cidade, Josiane não conseguiu entender o que acontecia, mas desconfiava de que algo “não estava tão bem”. Um dia, ao conversar com uma amiga psicóloga e falar sobre os comportamentos da criança, a genitora descobriu que todos os sinais dados pelo filho tinham uma explicação: o autismo. Mas, até o momento, a informação era apenas uma hipótese.

Tudo mudou quando definitivamente a mãe decidiu buscar ajuda profissional fora do estado. Em 2010, Ivi foi levado para Curitiba, quando recebeu o diagnóstico de Síndrome de Asperger (classificado atualmente como autismo leve).

Embora a notícia tenha impactado diretamente a família, Josiane decidiu seguir com a vida e lutar pela felicidade do filho, ao lado do esposo e dos irmãos do garoto. “Me orientaram sobre o que deveria fazer e quais meios eu precisava utilizar. Fui seguindo com a vida, dando atenção pra ele. Matriculei em uma escola e no início ele apresentou muitas dificuldades, principalmente no contato com os outros colegas, mas deu conta. As pessoas me procuravam para falar dele, pois não tinham entendimento, não sabiam o que fazia dele uma criança diferente das outras, mas com capacidades que poderiam ser exploradas”, explicou.

Souza disse que várias vezes foi à escola, a convite da professora, que insistia em dizer que ele não gostava de brincar com os demais alunos e ficava apenas direcionado para os livros: “ fui lá e ela me disse isso. Eu falei: ‘deixa ele ler e fazer o que quer’.

O que impressionava a mãe era o fato de o garoto ser “fascinado” por números, mostrando facilidade na compreensão da ordem numérica e das contas matemáticas. “Embora não gostasse muito do contato com os outros colegas e não ligasse para as brincadeiras, ele amava número e amava ler. Aprendeu com três anos”.

No ensino fundamental, Ivi recebeu cinco medalhas nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática (OBMEP), destacando-se como um dos melhores alunos do colégio. “Sempre lutou, mesmo com as dificuldades que tinha para compreender algumas coisas. Fez e superou as limitações. Tenho muito orgulho”, disse emocionada a mãe.

Fonte: ContilNet

Ivi, sua mãe e o seu pai/Foto: Ascom

Os anos se passaram. Após o término do ensino médio, chega a notícia tão esperada: a aprovação na faculdade, especificamente no curso de ADS. “Quando recebi a notícia de que ia estudar o curso dos meus sonhos, em uma das melhores faculdades do estado, pensei sobre o quanto valeu a pena lutar e vencer os desafios. Naquele momento eu ainda passava por algumas dificuldades com relação ao autismo. Eu não era muito sociável. Então, por alguns momentos, a ideia de estar em grupo, apresentar trabalhos e me expor, me deixou um pouco ansioso e com alguns receios. Mas, enfrentei”, enfatizou Ivi.

Mesmo tendo a rotina preenchida por atividades, o sonho do estudante fez com que todas “as barreiras fossem derrubadas”. “Foi uma coisa interessante, sabe?! Eu apresentava trabalhos, com muita dificuldade, mas enfrentava o medo. Fui me enturmando com o pessoal e, quando percebi, já estava ali, com os meus colegas. Eu fiquei impressionado e muito feliz”, comentou.

A mãe disse ainda que não poderia ter escolhido outra instituição para o filho, enfatizando o acolhimento dado a ele. “Quando matriculei o Ivi aqui, fiquei pensando sobre como ele se sentiria, se seria bem acolhido. Pouco tempo depois, me dei conta de que fiz a melhor escolha. Os professores do curso acompanharam meu filho desde o momento em que pedi a força de cada um deles. Lembro que todos se reuniram para a elaboração de estratégias. Ele teve mediadores, mestres e anjos que o ajudaram nessa caminhada. A FAAO me mostrou o que é inclusão na prática”, concluiu.

O professor e coordenador do curso de ADS, Anderson Santos, parabenizou o futuro profissional e disse que sua trajetória acadêmica foi marcada por superação. “Ele foi meu aluno, mas também me ensinou muito sobre como vencer os obstáculos dados pela vida. Sinto-me horando em participar de uma história tão linda que fortalece a nossa crença em uma educação que pode mudar mundo. Ivi mostra que a força da inclusão, como proposta e objetivo, está no resgate das possibilidades presentes em qualquer ser humano”, salientou.

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