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Alunos brasileiros se apresentam à Nasa e enviam experimento ao espaço

jun 29, 2018
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Um composto de cimento e plástico verde será testado na Estação Espacial Internacional.

Em meio a sisudos estudantes americanos vestindo jaleco, camisa xadrez, gravata borboleta e até terno, um grupo de cinco brasileiros se remexia de ansiedade nas cadeiras de um auditório em Washington, nesta quinta-feira (28).

Os alunos, que têm entre 13 e 15 anos, estavam a poucos minutos de serem os primeiros brasileiros a apresentarem um experimento para ser enviado à Estação Espacial Internacional (ISS), numa ação anual do governo americano em parceria com a Nasa (agência espacial dos EUA).

“Acho que foram os cinco passos mais difíceis da minha vida”, contou  o estudante Otto Gerbaka, 13, sobre o percurso que fez até o palco, debaixo de réplicas de foguetes, satélites e uma imagem da Lua.

É a primeira vez que um grupo de alunos do Brasil, dos colégios Dante Alighieri, Projeto Âncora e Escola Municipal Perimetral, em São Paulo, participa do evento. A competição estudantil, chamada de Programa de Experimentos Espaciais para Estudantes, é realizada há 12 anos. Nunca antes um país de fora da América do Norte havia participado da iniciativa.

“É uma honra ter vocês aqui; isso vai servir como modelo para a nação inteira”, afirmou o coordenador do programa, Jeff Goldstein, que puxou aplausos à equipe.

Em inglês, os brasileiros se revezaram para contar como funciona o experimento, que irá enviar ao espaço uma ampola de um composto feito de cimento e pó de plástico verde. Caso esse composto resista de maneira satisfatória à microgravidade, ele pode ser uma alternativa para a construção de colônias humanas fora da Terra.

O lançamento foi nesta sexta-feira (29), às 6h41, no horário de Brasília.

Nesta quinta, foram pouco menos de dez minutos de apresentação. Mas, ao final, professores, pais e alunos se abraçavam, muitos às lágrimas.

“É como se a gente subisse junto. Em cima do palco, tem mais de um ano de trabalho”, afirmou, com olhos marejados, a professora Miriam Brito Guimarães, coordenadora do colégio Dante Alighieri. “Isso aqui é uma pontinha de uma grande montanha que estamos construindo.”

Guimarães segurava uma bandeira do Brasil, no fundo da plateia. Outros professores sacavam o celular e gravavam o momento histórico. Um dos alunos, Natan Cardoso, 15, colocou até borrachinha verde-e-amarela no aparelho que usa nos dentes.

“Não foi para a Copa, não; foi para mostrar aqui na Nasa”, disse ele, que estuda na Escola Municipal Perimetral e faz sua primeira viagem internacional.

Foram meses de preparação e estudos. A equipe vencedora saiu de uma disputa realizada no ano passado entre 72 grupos de brasileiros, formados por alunos de 12 a 14 anos. Três projetos foram enviados à Nasa, e apenas um foi selecionado.

“Nós estamos num momento em que precisamos escolher se o Brasil vai ser um ator ou um espectador do acesso ao espaço. É esse o meu trabalho: transformar o Brasil num ator”, afirmou à Folha o engenheiro espacial Lucas Fonseca, coordenador da Missão Garatéa, que desenvolveu o projeto em parceria com os colégios.

Depois de escolhido o experimento, em dezembro do ano passado, os alunos passaram a se organizar para a viagem. Alguns reforçaram as aulas de inglês. Outros fizeram vaquinha com os colegas para pagar as passagens.

“Eu vendi muito brigadeiro para conseguir vir”, contou Sofia Palma, 13, aluna do 8º ano do Projeto Âncora, em Cotia. “Sempre gostei muito de ler sobre Ciência, mas nunca pensei que estaria em um projeto desse porte.”

A possibilidade de criar novos engenheiros espaciais é real entre o grupo. “Eu nunca tinha pensado em trabalhar com o espaço. Com esse projeto, eu acho que é uma possibilidade”, disse Laura D’Amaro, 13, aluna do Dante Alighieri. “Eu sempre quis ser engenheiro. Depois desse projeto, mais ainda”, afirmou Guilherme Funck, 13, de quem partiu a ideia de trabalhar com cimento.

No dia anterior, eles haviam praticado a apresentação durante três horas a fio – mesmo com jogo do Brasil na Copa do Mundo.

Para os professores, os reflexos da pesquisa já são sentidos em sala de aula. “A perspectiva é outra: eles começam a elaborar perguntas, fazer hipóteses, trabalhar com variáveis. É uma alfabetização científica”, diz Tiago Bodê, professor de Ciências do colégio Dante Alighieri.

Em julho, o Garatéa irá abrir um edital nacional para a próxima edição do concurso. Podem participar colégios de todo o país.

Fonte: Folha de SP

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