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Amilcar Tanuri, o cientista que edita DNA do coronavírus para obter vacina

dez 11, 2020
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São muitas as linhas de pesquisa que buscam a vacina contra o novo coronavírus, mas a do virologista Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é inovadora pelo método usado. Ele estuda aplicar a técnica Crispr CAS-9 de edição genética no vírus vivo atenuado (sem possibilidade de reprodução).

Usar o vírus atenuado para obter uma resposta imune do corpo humano ao agente infeccioso é um caminho bastante conhecido —foi assim que chegamos às vacinas contra a poliomielite e o sarampo, por exemplo. Basicamente, ele faz tudo o que o vírus norma faz, só não causa a doença, mas é capaz de estimular a produção de anticorpos.

No caso do coronavírus, o cientista trabalha para tornar o processo de imunização mais seguro e duradouro com a ajuda de uma das técnicas mais revolucionárias que temos hoje na ciência, a edição ultraprecisa do DNA. Em laboratório, as proteínas virais (chamadas Orfs) do novo coronavírus são retiradas, e, com ajuda da edição genética, substituídas por um gene extraído do vírus da herpes.

É como fazer uma cirurgia no genoma do vírus: você retira um dos genes que está ligado à virulência do Sars-Cov-2 e substitui-o por um gene que fique sensível ao antiviral chamado Aciclovir, usado no tratamento da herpes
Amilcar Tanuri

A vantagem, segundo o pesquisador, é que a vacina teria uma etapa extra de segurança. A primeira, mais comum, seria responsável por gerar uma resposta imune após a dose. Se mesmo assim a pessoa for contaminada, ela poderia ser tratada com um remédio muito popular, já eficaz contra uma doença causada por vírus. No caso, o Aciclovir, que conseguiria eliminar o novo coronavírus.

“É algo inovador, ainda ninguém tentou usar o vírus atenuado com manipulação do genoma através do Crispr. O projeto está escrito, a estratégia montada e só precisamos de financiamento”, explica.

A ideia de usar a engenharia genética, que desde 2012 manipula com sucesso genes em células e organismos vivos por meio de recortes precisos de sequências de DNA, surgiu em julho. Taruni acredita que, com financiamento, ele consegue desenvolver o protótipo da vacina e a prova de conceito em três meses. Na sequência, poderiam testá-la em pequenos animais.

Em paralelo, a equipe de Taruni no laboratório na UFRJ chegou a novos testes rápidos para detecção da covid-19, oferecidos em parceria com empresas internacionais. Quatro deles tiveram a eficácia comprovada, com a vantagem de serem mais baratos e menos invasivos do que o PCR —o mais usado e, até então, tido como mais confiável.

Segundo o especialista, o avanço é importante, porque os testes que substituem o PCR são feitos em 15 minutos. “Então, será possível diagnosticar e isolar essas pessoas rapidamente”, diz.

Os testes rápidos de antígenos conseguem verificar a presença do vírus na nasofaringe. O estudo contou com a participação de 2.000 pessoas.

Formado em medicina e doutor em biofísica com ênfase em genética, Tanuri é uma referência brasileira na área de virologia. Reconhecido internacionalmente por seus trabalhos sobre a genética de vírus, esteve na África em 2014, no auge da pior epidemia de ebola do continente, e publicou trabalhos importantes sobre o HIV.

Dois anos depois, destacou-se pelo pioneirismo nos estudos sobre o zika —participou do sequenciamento genético completo do vírus encontrado no líquido amniótico de grávidas que tiveram crianças com microcefalia, o que ajudou a comprovar a associação entre o zika e a doença em fetos humanos. Os resultados foram publicados na revista médica britânica “Lancet”.

Hoje, ele lidera uma força-tarefa com cerca de 40 pesquisadores voluntários na UFRJ para investigar a resposta imune dos pacientes ao vírus no Brasil, sendo que quatro deles estão focados no desenvolvimento da vacina.

No entanto, o médico ressalta que o atual cenário é totalmente diferente daquele visto na epidemia do zika, “quando tínhamos laboratórios bem equipados, supridos de reagentes e muitos estudantes com bolsa”, afirma.

Em 2015, o Brasil liderou a descoberta da relação entre o zika e o aumento de casos de microcefalia e outras alterações em bebês. O protagonismo científico brasileiro foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Agora, Tanuri sequer saber se seu trabalho renderá algum fruto.

Para ele, a grande dificuldade no momento é conseguir financiamento para a pesquisa da vacina. Como outros cientistas brasileiros, ele também sofreu com a dificuldade para comprar ou importar material para o seu laboratório no começo da pandemia.

“O negacionismo é mais um problema que a gente enfrenta. Você vê pessoas negando o óbvio, então é uma luta constante que precisamos travar contra a desinformação”, ressalta.

Este texto faz parte da série “Made In Brazil”, que descreve o trabalho de 10 cientistas de ponta brasileiros que atuaram brilhantemente no combate ao coronavírus durante a pandemia.

Fonte: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/12/07/amilcar-tanuri.htm

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