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Após racismo, 100 pessoas protestam em agência da Caixa na Bahia

fev 27, 2019
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Depois de ter sido expulso com mata-leão por um policial militar (atendendo ordens do gerente geral), o empresário Crispim Terra voltou ao lugar acompanhado de mais 100 pessoas.

O protesto aconteceu em frente à agência bancária, que fica na Avenida Sete de Setembro, no centro da cidade. Ativistas, membros do movimento negro e cidadãos cobram respostas sobre violência sofrida pelo empresário, que além de imobilizado na frente da filha, foi detido.

O ato durou cerca de uma hora. No vídeo divulgado pelo portal Correio Nagô, é possível ver uma movimentação de pessoas tentando impedir a entrada de Crispim na agência. Ao jornal Correio, o psicólogo e professor Walter Takemoto, de 64 anos, disse que o gerente pediu que não entrassem.

“Se tivessem impedido nossa entrada, a gente ia bloquear as entradas, seria pior. Então, o que fizemos foi entrar pacificamente e explicar aos clientes o porquê de estarmos ali, e que o que aconteceu com o Crispim foi, sim, racismo”, salientou.

Conhecida pela demora no atendimento, a agência estava cheia na hora do ato e Crispim recebeu apoio e aplausos de outras pessoas.

A situação gerou repercussão nacional e fez lembrar a morte Pedro Henrique, asfixiado até perder a vida pelo segurança do Extra, Davi Amâncio, que permanece em liberdade. Dois homens negros vítimas da violência racista do Brasil.

A violência racial aconteceu no último dia 19. A filha adolescente do dono de uma rede de farmácias no Recôncavo Baiano gravou vídeo mostrando o gerente geral da Caixa, identificado pelo empresário como João Paulo, ordenando a retirada. “Só sai com ele [Crispim] algemado”.

Crispim conta que esperou mais de quatro horas para ser atendido. Sem sucesso. Ao questionar a gerência do banco sobre a demora, foi tratado com agressividade. Ele não tem dúvidas da tipificação do crime de racismo cometido pela Caixa e pela Polícia Militar.

O empresário afirma que vem, durante dois meses, tentando receber um comprovante de pagamento de dois cheques. Um no valor de R$ 1 mil e outro no de R$ 1.056. Os dois foram devolvidos pela Caixa – que alegou a falta de saldo na conta para a compensação.

Crispim contesta o banco e cobra o estorno de R$ 2.056, retirado de forma indevida de sua conta. Ele chegou a comparecer seis vezes na agência da Avenida Sete de Setembro. O  empresário tomou um chá de cadeira atrás do outro. Ele estava acompanhado da filha de 15 anos e também acusa o policial militar de racismo.

“Também acredito que sofri racismo por parte do policial, porque sequer esbocei uma reação, estava tranquilo. Podem até pedir as imagens das câmeras de segurança do banco. Minha filha ficou em pânico”, disse ao Correio.  

Força justificada

Em nota, a Polícia Militar afirma que o uso de força se justificou pela recusa do cliente em deixar a agência, que segundo a corporação, já havia encerrado o expediente.

“Houve a necessidade de empregar a força proporcional para fazer cumprir a ordem legal exarada, mesmo após diversas tentativas de conduzi-lo sem o emprego da força. Ele não foi algemado. O vídeo divulgado mostra uma condução técnica dos policiais militares na ação e também observa-se uma edição suprimindo parte do ocorrido”.

A PM relata que uma sindicância será instaurada pelo 18º BPM para apurar as circunstâncias envolvendo a atuação policial.

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E a Caixa?

O Hypeness entrou em contato com o banco, que respondeu em nota estar apurando o assunto. “Informamos que não toleramos atitudes de discriminação cometidas contra qualquer pessoa e vamos apurar o caso que aconteceu na agência Relógio de São Pedro em Salvador. Estamos à disposição”.

A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Bahia (OAB-BA), repudiou o ocorrido e a postura do gerente.

O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) instaurou procedimento para apurar a denúncia de racismo praticado pelo gerente de Caixa Econômica Federal e os policiais militares. Todos devem ser ouvidos após o Carnaval pela Promotoria de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa. A Caixa, enquanto instituição, também será acionada.

A evento está sob a batuta da promotora Lívia Santana Vaz, que já assistiu ao vídeo da agressão.

“Tem um momento no vídeo em que se fala ‘gente desse tipo’, então no mínimo houve um constrangimento legal, mas eu preciso entender todo o contexto. Se houve um crime, que crime e que tipo de responsabilização que cabe”, diz ela, responsável pela vara de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa.

Fonte: Hypeness

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