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Após serem quase extintas, ariranhas retornam a rios na Amazônia

ago 9, 2018
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Maior carnívoro semiaquático da América do Sul, animal vem ressurgindo em áreas onde havia praticamente desaparecido por causa da caça predatória.

Após serem quase extintas pela caça comercial, as ariranhas estão retornando a rios da Amazônia.

Os últimos indícios da recuperação da espécie foram divulgados nesta semana pela revista científica Biological Conservation.

Liderada pela bióloga Natália Pimenta, a pesquisa analisou sinais da presença de ariranhas na bacia do rio Içana, no noroeste do Amazonas, onde ela havia sido considerada extinta.

O estudo foi feito após outras pesquisas apontarem uma tendência de recuperação da espécie – com nome científico Pteronura brasiliensis – em diferentes partes da Amazônia, como a bacia do Solimões e a região da hidrelétrica de Balbina.

Maior carnívoro semiaquático da América do Sul, com até 1,80 m quando adulta, a ariranha é um dos dois tipos de lontra encontrados no Brasil e está na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação, entre as espécies consideradas ameaçadas de extinção.

Mordidas de ariranha

O estudo no Içana teve início após membros do povo baniwa alertarem sobre o retorno das ariranhas a seu território, dentro da Terra Indígena Alto Rio Negro.

Presidente da Associação Indígena da Bacia do Içana, André Baniwa diz que moradores notaram os primeiros sinais da volta dos animais uns dez anos atrás, ao encontrar carcaças de peixes com mordidas de um bicho que não reconheciam.

Os mais velhos deram o veredicto: a ñeewi (ariranha, em língua baniwa) estava de volta.

Nos últimos anos, os sinais aumentaram – e vários moradores chegaram a topar com os mamíferos.

Membros da comunidade participaram do estudo sobre o retorno dos animais, que contou com o apoio das fundações Capes, CNPq, The Rufford Foundation e Idea Wild.

Baniwa conta que ariranhas não eram vistas na região desde os anos 1940. Na época, eram as espécies mais cobiçadas no movimentado mercado de peles amazônicas.

Comércio de peles de animais

Ao pesquisar o tema, a bióloga Natália Pimenta encontrou estudos que estimaram em 23 milhões os animais caçados na Amazônia Ocidental para a extração de peles entre 1904 e 1969.

O couro de ariranha – animal amazônico que mais sofreu com a caça comercial, segundo a pesquisadora – costumava ser exportado para os Estados Unidos ou a Europa, onde viraria casacos, chapéus e echarpes.

Em um catálogo de 1946 de uma loja de peles em Manaus, o couro de ariranha é vendido por 180 cruzeiros – acima do preço de peles de onça (150), maracajá (150) e caititu (47).

Baniwa diz que os próprios membros da comunidade caçavam os animais para trocar as peles por armas e outros bens. Um bom couro de ariranha valia o equivalente a duas espingardas.

A modernização das técnicas de caça acelerou o extermínio da espécie.

A partir dos anos 1960, leis passaram a regulamentar o comércio de peles silvestres no país. Em 1975, o Brasil aderiu a uma convenção internacional que proibia o comércio de espécies ameaçadas – entre elas, as ariranhas.

A demarcação de grandes terras indígenas na Amazônia a partir dos anos 1990 também golpeou a atividade.

A demanda pelas peles diminuiu, permitindo que as ariranhas começassem a se recuperar.

Fonte: G1

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