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Conheça a médica que enxerga além dos olhos de cada paciente

nov 23, 2018
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Carolina Monteiro tinha 19 anos quando viu o sonho de se formar médica desaparecer por causa de um câncer. “Fui só mais um diagnóstico em uma sala fria. Sobrevivi e aprendi a respeitar a dor de quem busca ajuda médica.”

Ela não fica atrás da mesa e nem vai pedindo logo os exames quando o paciente chega ao consultório. Ela chama pelo nome, olha nos olhos, estende a mão. Boa parte das vezes, oferece um abraço, pergunta como foi o dia e procura ouvir atentamente. A médica Carolina Monteiro, de 28 anos, é residente em oftalmologia e tem a empatia como essência para exercer sua profissão.

“Respeitar a dor, conhecer e se colocar à disposição pode reviver a esperança de quem chega até você”, afirma em entrevista ao HuffPost Brasil. Mas Carolina conta que só tomou consciência da necessidade de um atendimento humanizado porque já esteve do outro lado da mesa. “Raspe logo seu cabelo!”, ouviu aos 19 anos, quando foi diagnosticada com linfoma em estado avançado – um tipo de câncer que afeta as células do sistema imunológico.

Ela tinha acabado de ser aprovada na faculdade de medicina e foi tomada pelo medo de não conseguir cursar. Conta que, à época, a profissional que lhe deu a notícia “definiu o meu caminho sem saber a cor dos meus olhos”. Buscando outras opiniões, se sentiu mais acolhida. Descobriu que parar os estudos não seria necessário, mesmo com a radioterapia e a quimioterapia. A única recomendação foi não fazer aulas dentro de hospitais, com a intenção de evitar infecções. “No início, eu fui só mais um diagnóstico em uma sala fria. Sobrevivi e aprendi a respeitar a dor de quem busca ajuda médica.”

“Todas as dificuldades me fizeram enxergar o mundo de um jeito diferente e me transformaram em uma médica de verdade.”

Durante o tratamento, Carolina sentiu a fraqueza do corpo em recuperação, a queda dos cabelos e a incerteza de poder continuar a ser plenamente saudável novamente. E foi acometida também pelo receio de não poder realizar um outro sonho: engravidar.

O tratamento poderia afetar seus hormônios e, consequentemente, o processo de ovulação. “A possibilidade de não conseguir ser mãe passou a ser um medo real na minha vida”, lembra.

Carolina precisava falar. Diante de suas angústias sobre o que poderia acontecer no futuro, ela criou o blog Vencendo o Linfoma. No blog, começou a compartilhar as fases da doença, os anseios e como se sentia em cada passo que dava na direção da cura. “Muitas pessoas que tinham tido a doença falavam comigo, compartilharam suas experiências.

O apoio virtual foi importante. Me fez sentir esperança para não desistir.” Depois de 1 ano em tratamento, ela sentiu algo se transformar. “Antes dava muito valor a superficialidades, à beleza física. Nasceu um nova Carolina”, crê.

Diante da desesperança entre o diagnóstico e o tratamento, Carolina não conseguia imaginar que seu futuro seria livre da doença, com o diploma de medicina em mão, um casamento, uma separação, um recomeço e um bebê no colo. “Todas as dificuldades me fizeram enxergar o mundo de um jeito diferente e me transformaram em uma médica de verdade”, diz.

Cada paciente é o grande amor de alguém.

Hoje, além de trabalhar em uma clínica de oftalmologia em Manaus, Carolina também participa de projetos sociais. Duas vezes na semana ela atende em comunidades carentes por meio do Projeto Instituto Sol. “É uma forma de fazer mais pelas pessoas. Levar luz e um mundo nítido para elas não tem preço”, conta.

“Para a maioria [dos profissionais], quando você ocupa a posição de médico é só mais um dia. Só mais uma pessoa entrando.

Mas quando você é paciente, a opinião de um especialista vale muito”, afirma. Para Carolina, cada paciente é o grande amor de outra pessoa. Por isso, a atenção do médico a ele deve ser plena. E a motivação, também. “A gente nunca pode tirar aquilo que é o mais importante na vida de uma pessoa: a esperança.”

Fonte: HuffPostBrasil

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