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Conheça os gêmeos que ganharam juntos 62 medalhas em Olimpíadas de matemática

dez 6, 2017
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Gabriel e Matheus Nunes, de 18 anos, passaram em estatística na UFPE e já fazem iniciação científica para acelerar a entrada no mestrado; por causa das medalhas, eles também ganharam bolsa para cobrir os gastos com os estudos.

É difícil saber quem é quem. Aos 18 anos, os irmãos gêmeos Matheus e Gabriel Nunes mantêm o mesmo corte de cabelo, falam com a mesma voz e sotaque e passam os dias no mesmo lugar: a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A dupla terminou nesta semana o primeiro ano da graduação em estatística, e cursa, ao mesmo tempo, um programa de iniciação científica para acelerar um mestrado em matemática.

A paixão por números começou cedo: eles participaram das primeiras olimpíadas com dez anos, quando entraram no sexto ano do fundamental no Colégio de Aplicação da UFPE. Desde então e até o fim do ensino médio, Gabriel conquistou 26 medalhas e Matheus, 36. As últimas, na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) eles receberam no mês passado, no Rio de Janeiro.

“No colégio, a gente muitas vezes aprende as coisas do modo mais simples que querem que você aprenda, para conseguir fazer as coisas básicas. No PIC, o professor falava: ‘vou mostrar por que acontece, por que dá certo, e que tem muitas outras formas de chegar a esse valor, você pode escolher o mais divertido’. Muitas vezes você vê só um dos lados, e perde as outras partes que podem ser mais divertidas pra você.”

Foi assim que os professores incentivaram o interesse dos dois irmãos pela disciplina, o que resultou não só em medalhas de olimpíadas de matemática, mas também as de outras áreas do conhecimento.

“A gente aprendeu muito a matemática e conseguia ganhar medalha em física, astronomia, informática, robótica, usando a matemática”, disse Gabriel. “Uma boa parte das nossas medalhas e das conquistas se devem a eles [professores]. Eles sempre nos ajudavam, davam aulas especiais, só eu e Gabriel na sala, eles sempre apoiavam muito”, completou Matheus.

Sucesso no Enem

Terminado o ensino médio, os dois estudantes seguiram o mesmo caminho que milhões de vestibulandos, e fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2016. A matemática também ajudou nas notas da prova mais tema: Gabriel tirou 898, acertando 39 das 45 questões. Matheus acertou 43 perguntas, e ficou com nota 1007,7.

Na redação, porém, foi Gabriel quem levou a melhor, com nota 960. Matheus tirou 920. Mas eles garantem que a competição entre eles é amistosa, e não atrapalha o apoio mútuo.

A companhia, além de ajuda, também rendeu boas histórias. “Nos jogos internos do colégio a gente já botou nome trocado na camisa”, lembra Matheus. “Se alguém fala o nome errado, eu aproveito pra fingir que sou Matheus”, diz Gabriel.

A confusão acompanha os dois desde pequenos. Os irmãos contam que sequer sabem se são gêmeos idênticos. No nascimento, a médica havia dito aos pais que eles não eram gêmeos univitelinos, mas sim estavam em placentas diferentes. Mas, por causa da grande semelhança entre os dois, ela diz que existe a possibilidade de eles serem da mesma placenta, que se dividiu em duas.

“É sempre bom a gente continuar juntos. Se alguém fala o nome errado, eu aproveito pra fingir que sou Matheus”, diz Gabriel. “Como a gente gosta das mesmas coisas, a gente não acaba com raiva de ter vida parecida e ser confundido um com o outro.”

Graduação e bolsa

A vida parecida continuou neste ano, quando os dois optaram pela mesma carreira no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A decisão, porém, foi penosa. Apesar de os dois gostarem muito de matemática, uma série de carreiras chamava a atenção deles. “Até o último dia do Sisu a gente não tinha decidido do curso”, afirmou Matheus.

Gabriel diz que os irmãos estavam indecisos entre matemática, estatística, engenharia de computação e “até outras engenharias”. Por causa da predileção pela probabilidade e pela análise combinatória, eles acabaram indo para a carreira de estatística.

“Nossa nota dava para passar no curso de medicina. As pessoas dizem: ‘Nossa, mas podiam passar em medicina e escolheram estatística’. Sempre foi o que a gente teve vontade, não só porque era o curso que tinha mais status.” – Matheus Nunes

Como tinham nota suficiente, eles foram aprovados na UFPE na modalidade de ampla concorrência, para permitir que outros estudantes pudessem concorrer pela cota de estudantes de escola pública.

Por causa do desempenho nas olimpíadas, os dois também ganharam uma bolsa do Instituto Tim, que dá R$ 1.200 a cada um para ajudar nos custos com a faculdade.

“Na faculdade tem muito material que a gente não recebe, tem que correr atrás de xerox”, diz Gabriel. “A gente não tinha muita condição de transporte, alimentação, e a bolsa pode nos dar um seguro, um sentimento de tranquilidade de que a gente pode focar na universidade.”

Além da graduação em estatística, os dois participam de um programa de iniciação científica voltado para o mestrado, que inclui algumas aulas extras da carreira de matemática. Depois do mestrado, eles ainda não sabem se pretendem cursar o doutorado no exterior, seguir carreira acadêmica, virar professores ou atuar em outras áreas, como o mercado financeiro.

“Independente de virarmos professores, queremos sempre ficar junto das olimpíadas, para dar a mesma oportunidade para outras pessoas que a gente teve”, diz Matheus. “O nosso curso e as olimpíadas nos abriram um mundo e uma visão para que a gente tenha a oportunidade de correr atrás e ir aonde a gente quiser”, completou Gabriel.

Fonte: G1

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