Do lixo à mesa: grupo faz refeição “gourmet” sem gastar dinheiro

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Nada de pratinhos coloridos, arranjos de frutas, o pastel convidativo ao lado da banca de peixe. É fim de feira.

Tem fruta amassada no chão, correria para desmontar as barracas e rua quase vazia, cheirando a peixe, esperando a limpeza passar. Para um grupo de moradores do bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, é a hora que a feira começa.

Toda quinta, depois do meio-dia, eles chegam na rua Caiubi para ziguezaguear entre armações de ferro e madeira amontoadas no chão. Folhas misturadas em um saco aqui, vários mamões com as pontinhas amassadas num caixote ali, um abacaxi abandonado na sarjeta, e o carrinho vai enchendo.

Uns chamam de xepa, outros falam em catar comida, quem está na moda da sustentabilidade conceitua como “reaproveitar”. A turma aqui chama de “freeganismo” — não é vegetarianismo e nem alguma religião, é comer sem pagar (free, em inglês) o que estava indo para o lixo. “Ao coletar o que é descartado, damos sobrevida ao alimento, podemos reinserir ele na economia”, diz a cozinheira Raquel Blaque, 37 anos, que participa da xepa.

O carrinho voltou cheio para a casa, onde são nove bocas para alimentar. “A comida coletada dá para a semana toda e ainda sobra”, dizem. Em cerca de uma hora de coleta feita por dois integrantes do grupo, foi possível encher sete caixas de frutas, verduras e legumes. Havia 15 mamões formosa em bom estado, cerca de 60 tomates fechados em saquinhos e diversas laranjas, caquis, maracujás, carambolas, berinjelas e verduras. Também tinha as cascas dispensadas da abóbora vendida em bandejinha e os aspargos dados pelo feirante. E quanto foi gasto em tudo isso? Nada. Tudo foi adquirido de graça.

Até mesmo os temperos, como o melado com mostarda feito com rapadura que seria usado em um prato, foram obtidos sem custos. “Achamos meia saca de rapadura de 50 kg na zona cerealista [área de comércio de cereais em São Paulo], jogada fora só porque estava quebrada”, conta Cherlon Assis, de 35 anos.

São os ingredientes coletados que dizem como será o prato. A receita é não seguir receita. Neste dia, o cardápio trazia um prato alemão que podemos chamar de panqueca de batata e mandioquinha, acompanhado de uma “salada concreta”, assim chamada por suas folhas e legumes virem do asfalto em que foram encontrados.

“Pegar comida do chão é feio?”

Ruas, feiras e geladeiras, quando bem compreendidas, podem prover alimentação completa e saudável, acreditam os integrantes da turma da xepa. “Nossa ideia é mostrar que qualquer um pode fazer um ‘x-geladeira’ de qualidade. Queremos que as pessoas possam entender os alimentos que têm ao redor e escolher o que comem”, diz.

Raquel Blaque, a Nega, como é mais conhecida, é chef e representa uma gastronomia criativa. Não gosta muito dos termos. “Quem cozinha é cozinheiro. E gastronomia é comida”, defende.

Na infância em Cariacica (ES), Raquel acompanhava o pai pegar caranguejo e sururu no mangue. Conhecia iguarias e pratos “finos” que a mãe trazia da casa dos patrões, onde trabalhava como faxineira. Só não entendia porque os pais sofriam por não conseguir comprar o suficiente na feira, enquanto via alguns amigos pegando comida que caia no chão. “Por que do patrão você pode receber e da rua não? Por que é feio?”

Quando a reportagem acompanhou o grupo na feira, também fazia sua xepa da semana uma família, com três crianças, da Brasilândia, bairro da zona norte paulistana. Uma das crianças, uma menina, levava um abacaxi debaixo do braço e se escondia da câmera da reportagem. “Você acha feio pegar comida da feira?”, perguntou Raquel para a criança. “Feio é desperdiçar, jogar comida fora. Você é linda, o que você faz também”, completou.

Fonte: http://noticias.uol.com.br

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