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Estados Unidos vão às ruas contra a separação de famílias na fronteira

jul 2, 2018
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Centenas de manifestações de costa a costa denunciam a política de “tolerância zero” com os imigrantes irregulares que escandalizou ao país.

O escândalo da separação de famílias de imigrantes irregulares, a política hiperagressiva de Donald Trump de separar pais e filhos quando cruzam a fronteira, provocou uma indignação que se refletiu neste sábado nas ruas dos Estados Unidos. Mais de 600 manifestações coordenadas em todos os Estados, sob o lema “Mantenha as famílias juntas”, serviram como uma demonstração de força que rivaliza com as convocatórias pelos direitos das mulheres, dando uma ideia do nível de indignação com a política de “tolerância zero” adotada por Trump, que nem o seu Partido Republicano se atreveu a defender.

Os manifestantes começaram a se reunir na Costa Leste por volta das 10h (hora local). A de Nova York partiu sob intenso calor da praça onde fica o tribunal federal de imigração, o maior dos Estados Unidos. As reivindicações dos manifestantes eram três: reunir imediatamente aos seus pais cerca de 2.000 crianças e adolescentes imigrantes que permanecem separados; acabar com essa política; e acabar com a detenção de famílias. Há uma semana, Trump assinou um decreto que teoricamente ia nessa direção. Mas os manifestantes neste sábado consideravam que ele não foi suficiente e pediam a definição de um plano preciso para reunir os menores aos seus pais.

“Estas detenções são deploráveis e antiamericanas”, disseram os organizadores do movimento Rise and Resist (“erga-se e resista”). “As famílias devem ficar juntas, e por isso precisamos acabar com isso agora.” Uma multidão cruzou a ponte do Brooklyn para se concentrar depois na praça Cadman. Outra marcha estava convocada em frente à Torre Trump, residência privada do presidente. “Trata-se de combater qualquer política que ameace a democracia, a igualdade e as liberdades civis”, acrescentou o ativista.

Os manifestantes insistiam em que não são radicais. “Chegamos até aqui”, dizia Rob, enquanto caminhava com sua família para o Brooklyn. “Senti que devia fazer mais. É uma política horrenda.” Maya, de 12 anos, vai a uma passeata pela primeira vez. “É importante se mobilizar”, diz, enquanto mostra um cartaz onde se lê: “Procurar refúgio não é crime”. Ela estava acompanhada da sua mãe, Diane, para quem a atual política “é contrária a todos os valores nos quais acreditamos”.

Entre os organizadores dos protestos se encontram sindicatos como a Aliança Nacional dos Trabalhadores Domésticos, que representa as babás. Muitas são imigrantes ilegais. Comentam que não viram uma mobilização nacional como esta nem na época das deportações expressas, no Governo de Barack Obama. Os responsáveis pela Coalizão da Imigração de Nova York acrescentam que essa luta vem de longe e não pode terminar apenas porque o presidente assinou uma ordem executiva. “Arrebataram milhares de crianças dos seus pais e as distribuíram por todo o país”, queixa-se Steven Choi, diretor-executivo dessa organização que dá assistência aos imigrantes. Estas mobilizações, insiste, servem para mostrar a solidariedade que os residentes legais têm em relação aos irregulares.

Os manifestantes pedem ao presidente que mostre “um pouco de decência moral” e rejeitam a política de criminalizar pessoas que estão deixando seus países para fugir da violência e procurar proteção nos Estados Unidos. “Se a Administração não for capaz de acabar com este tratamento tão cruel e imoral dos imigrantes”, insiste Choi, “então caberá ao Congresso fazer isso, antes que acabem em Haia por crimes contra a humanidade”.

“Os republicanos estão permitindo que Trump cumpra as promessas que fez durante a campanha”, acrescentam outra ONG, a Empire State Indivisible. Todos defendem a abolição da polícia migratória (ICE, na sigla em inglês), para que deixe de funcionar como um corpo paramilitar dedicado a aterrorizar. O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, se somou a outros democratas que pedem a criação de algo “diferente”, porque da forma como o sistema funciona hoje “não é aceitável”, segundo ele.

Qualquer democrata que busca protagonismo no debate nacional pede o desaparecimento do ICE. É uma das promessas de campanha de Alexandria Ocasio-Cortez, a nova revelação política entre os progressistas. Mas há manifestantes que consideram que é mais urgente e necessária uma ampla reforma da legislação migratória, e que não se trata do nome dado ao ICE, e sim de como é fiscalizado seu trabalho na hora de proteger a fronteira.

Fonte: El País

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