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‘Gerador de hidrogênio’ promete economia de gasolina de até 40%

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Cansado de pagar caro pela gasolina, o chaveiro Vitor de Moura, 31 anos, começou a pesquisar formas de economizar. Morador de Novo Hamburgo (RS), Moura percorre cerca de 200 quilômetros por dia prestando atendimento a clientes. E, na internet, seus olhos brilharam ao encontrar grupos de discussão e vídeos sobre o que é conhecido como “gerador de hidrogênio”, que promete economia de até 40%.

O sistema se baseia na geração de oxigênio e hidrogênio contidos na água, por meio de eletrólise. O gás resultante, uma mistura desses dois elementos — chamado de HHO —, é injetado na entrada de ar da câmara de combustão do motor para servir como aditivo na queima do combustível. Com ajuda que obteve na web, Moura construiu o seu próprio gerador e o instalou em janeiro. Sem conhecimento avançado de mecânica, ele afirma ter conseguido 29% de economia de gasolina na estrada em seu Ford Focus 1.6.

Foi também com um gerador assim que o contrabaixista e permacultor paulista Vinícius Pereira converteu sua Kombi em 2015. A Zeolina, como ele a batizou, percorreu cidades entre Minas Gerais e Espírito Santo naquele ano levando informações aos moradores sobre coleta de água da chuva após o desastre de Mariana, que poluiu o Rio Doce.

Moura e Pereira são exemplos de um movimento que tem obtido fôlego no Brasil nos últimos dez anos e que criou uma indústria paralela de autopeças, sem parâmetros técnicos nem qualquer certificação de órgãos reguladores. Denício Coelho, engenheiro eletricista que em 2013 concluiu seu mestrado em Engenharia de Energia na Universidade Federal de Itajubá (MG) estudando os gases resultantes de eletrólise em motores de combustão, diz que existem 15 empresas do setor no Brasil. Essas companhias vendem, em sites de compras, kits com geradores completos, peças sobressalentes e eletrólitos — soluções de água misturada com um sal, como o hidróxido de potássio, usadas para acelerar a separação das moléculas da água ao receber a carga elétrica.

Vai pegar?
Mas essa tecnologia não é nova. A primeira patente foi criada em 1918, por Charles H. Frazer, nos EUA. Coelho explica que o gás resultante da eletrólise é poderoso, uma vez que são liberados, além de hidrogênio e oxigênio, também hidroxila e elétrons livres. Segundo ele, os motores a combustão possuem apenas 30% de eficiência. Quando o gás entra no motor, eleva o poder de explosão fazendo uma queima completa do combustível. Há até pessoas que têm realizado experiências usando apenas o gás da eletrólise para movimentar o veículo, algo que o engenheiro desaconselha, uma vez que o motor não está preparado para isso.

Em busca de dicas, os adeptos se reúnem em grupos de WhatsApp como o HHO Experts, com 119 membros, administrado por Paulo Salgado, analista de sistemas de Vitória (ES) que há um ano transformou seu Peugeot 206 e diz ter conseguido economia de 30%. Coelho, que participa de vários grupos, estima em 500 o número de pessoas que discutem o tema nesses espaços. No país, ele calcula que haja ao menos 5 mil pessoas aplicando a técnica. Pelo crescimento, o engenheiro defende a criação de uma associação do setor e de um selo de qualidade do Inmetro.

Já para o advogado Lamberto de Lavor, esse mercado jamais será regulado devido à pressão do setor do petróleo. Lavor fabrica desde 2008 em sua casa, em Olinda (PE), geradores HHO para veículos, caminhonetes e até caminhões. Chega a produzir 80 por mês, enviando o produto por correio para todo o país. Os kits custam R$ 600 para veículos 1.0 e R$ 1 mil para caminhonetes. “Não tem homologação, nem nunca vai ter, porque tudo que é acessório para dar economia é barrado.”

Ray Wang, fundador da consultoria norte-americana Constellation Research, porém, nega uma teoria da conspiração. Para ele, a indústria não adotou esse sistema porque a energia necessária para liberar o hidrogênio da água é muita, o que pode causar danos ao funcionamento do carro, um “custo proibitivo” por quilômetro. “Não há nada que impeça a técnica com água e sal, mas você precisa de muita energia.” Salgado reconhece que o ideal é usar até 10% da energia do alternador do veículo no gerador para evitar problemas.

“É estranho que um kit tão reduzido possa gerar tanta energia que separe a molécula da água a ponto de ser utilizada na combustão do motor. Vai mais vapor de água para o motor que hidrogênio”, contesta Edson Orikassa, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), que diz conhecer a tecnologia por vídeos na web. Ele afirma que a entidade nunca foi demandada para estudar esse processo.

Há também riscos mais graves, alerta a pesquisadora Monique Santos, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP. “O composto salino pode prejudicar o motor do carro, além de haver risco de explosão”, diz ela, que estuda células de combustíveis de hidrogênio, tecnologia completamente diferente do gerador de HHO e, essa sim, crescente na indústria formal. O sistema é uma alternativa aos veículos elétricos que funcionam com bateria que tem de ser carregada na rede elétrica, como os carros da Tesla — com essa técnica, o hidrogênio é que alimenta a bateria. Na Europa, EUA e Ásia já estão sendo vendidos pelas grandes montadoras modelos elétricos alimentados assim. A consultoria Research and Markets estima que 2018 vai terminar com produção de 7,8 mil veículos movidos a células de combustível, número que deverá chegar a 269 mil em 2025.

O grande problema é como conseguir, de forma sustentável, o hidrogênio para esse tipo de carro elétrico. Quando obtido por uma reação utilizando gás natural, há poluição no meio ambiente. Já a eletrólise com energia do sol poderia ser uma alternativa mais verde, conta Zetian Mi, professor da Universidade de Michigan (EUA). Em abril, Mi e outros cientistas publicaram estudo sobre um dispositivo capaz de realizar a tarefa.

Entre tantas possibilidades, a discussão das fontes de energia depende de investimentos e associações sólidas para avançar. Mas, assim como é comum dos combustíveis fósseis, o debate ainda está envolto em uma espessa cortina de fumaça.

COMO FUNCIONA:
– Em um recipiente com água destilada, instalado próximo ao motor, é adicionado um reagente composto, geralmente, por hidróxido de potássio
– A água é enviada para uma célula eletrolítica alimentada na bateria e no alternador do veículo.
– Essa célula energiza a água, cuja reação é liberar hidrogênio e oxigênio
– Esses gases são injetados na câmara de combustão do motor pela admissão de ar. Os gases funcionam como aditivo da queima do combustível fóssil

Fonte: Galileu

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