Ciência

A modelo inventora que está mudando o futuro da medicina espacial

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Inspirada pela moda, mas voltada para a medicina, a Canaria é um brinco no estilo ‘ear cuff’ que coleta informações vitais sobre a pessoa que o usa e seus arredores.

Alex Sorina Moss é artista e modelo, mas esses são apenas trabalhos extras que lhe permitem ir atrás de sua maior ambição – fazer um brinco que possa transformar a viagem espacial para sempre.

A ideia de Moss já trouxe fama à sua equipe ao ganhar um prêmio da Nasa para Melhor Uso de Dispositivo em 2016. Mais do que isso, sinaliza uma nova direção para tecnologias wearables (dispositivos de tecnologias para vestir).

A Canaria é um pequeno brinco usado na parte externa da orelha (chamados brincos ear cuffs) que mede estatísticas vitais do corpo, além de outras métricas como os níveis de certos gases no ar em torno de quem o está usando – enquanto wearables biométricos mais conhecidos miram em consumidores que querem se exercitar, o aparelho está sendo desenvolvido para fins médicos.

Precisa, confortável, estilosa e potencialmente salvadora de vidas, essa nova tecnologia parece ser o primeiro passo rumo a nos tornarmos ciborgues. Mas como exatamente isso tudo surgiu – e quais são as chances dessa moda realmente pegar?

“Eu costumava usar joias muito extravagantes, enormes, Alexander McQueen, brincos que pesam metade do peso da sua cabeça”, diz Moss, sentada ao lado de seu colega James Lynn, um engenheiro eletrônico e chefe técnico da Canaria. Na orelha, ela veste um protótipo de sua criação.

“Eu percebi que se você tiver uma que for bem desenhada o bastante, você pode usar por algumas semanas ou durante um festival de música inteiro sem tirá-la.”

Foi essa ideia que Moss levou ao hackathon de aplicativos espaciais da Nasa – não exatamente um lugar onde você imaginaria cruzar com uma modelo, mas ela tem estudado tecnologia, neurobiologia e como incorporar esses elementos no seu design.

2+2

A Nasa deu uma enorme tarefa para aqueles que compareceram ao seu desafio: resolver o problema do dióxido de carbono na espaçonave.

Por causa das condições de gravidade zero no espaço, o ar não se movimenta como na Terra. Isso significa que, se um astronauta passar muito tempo em um lugar, ele pode acabar em uma bolha letal de dióxido de carbono, potencialmente inalando o gás venenoso.

“Houve um momento em que eu somei 2+2”, diz Moss. “Brincos ear cuff são confortáveis porque há muitas terminações nervosas no lobo, mas não na parte da concha”, que é a parte central e cavernosa da orelha, explica ela.

“Então, o problema que eu estava tentando resolver era: é possível colocar um medidor de dióxido de carbono em algo que você veste de maneira que você tenha leituras mais precisas dos bolsões de gás e que você possa usar durante meses a cada vez?”

A criação de Moss ganhou prêmio da Nasa para melhor uso de dispositivo em 2016 (Foto: Canaria)

Aplicações em expansão

O que Moss não havia percebido era que o seu brinco poderia resolver muito mais do que o problema do dióxido de carbono.

O engenheiro eletrônico Rob Finean tem desenvolvido alguns projetos com o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) e sabia que a oximetria de pulso poderia ser integrada ao design. Em outras palavras, os sinais vitais de uma pessoa – de níveis de oxigênio no sangue até batimentos cardíacos – poderiam ser medidos.

Finean agora é Diretor de Desenvolvimento de Produto na Canaria.

“Tim Peake fez alguns experimentos recentemente e a maioria deles eram com base em seu próprio corpo”, diz Lynn, referindo-se ao astronauta britânico, que recentemente voltou de uma temporada na Estação Espacial Internacional. “Mesmo assim, seus sinais vitais só eram medidos uma vez a cada duas semanas.”

A razão para isso, diz ele, é que no momento não há um wearable apropriado para esse serviço – o método de medida atual envolve usar uma roupa apertada e desconfortável. “Depois de dois dias, eles tiraram a roupa e disseram: ‘Eu não vou usar isso’.”

Moss com o astronauta Tim Peake (Foto: Alex Moss via Instagram)

Utilidades

A Canaria hoje não detecta apenas gases letais.

Suas luzes LED vão se tornar um oxímetro de pulso, o que significa que também poderão medir o nível de oxigênio no sangue e os batimentos cardíacos de um astronauta, assim como fazem os grampos presos aos dedos de um paciente em tratamento intensivo.

O dispositivo também pode ser carregado remotamente, para que a pessoa que a usar não precise ficar tirando o equipamento – um passo importante para resolver a atual escassez de dados biométricos de astronautas.

O potencial da Canaria para outras indústrias é vasto, e o time agora está agora na Austrália oferecendo a ferramenta para mineradores que enfrentam problemas parecidos de detecção de gás e monitoramento de sinais vitais.

A fatiga também é um enorme problema na indústria, e o brinco pode vibrar e avisar motoristas que seus dados biométricos indicam que eles vão cair no sono em breve e precisam fazer um intervalo.

Um dia – se o instrumento for permitido em hospitais – poderemos viver em um mundo no qual os pacientes possam usar uma Canaria, dando aos médicos dados constantes de seus sinais vitais. Considerando a crescente escassez de camas hospitalares, um potente conjunto de dados pode dar confiança aos médicos para liberar alguns pacientes rapidamente.

Há um ditado no mundo tecnológico das startups de que todo time em desenvolvimento precisa de um hipster, um hacker e um trabalhador resiliente. Mas por mais que a Canaria tenha de fato três pessoas no time, seria muito reducionista dar um rótulo para cada um.

A Canaria envolve alta moda – belas artes, até – trabalhando junto à ciência. É uma relação simbiótica e frutífera e talvez um dia esse protótipo, que já está na fase de testes, possa salvar a sua vida.

Fonte: G1

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