• ter. abr 16th, 2024

Ele largou um cargo executivo na Microsoft para erguer bibliotecas infantis

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John Wood larga seu emprego de executivo na Microsoft para criar uma biblioteca infantil e pública.

O ano era 1998. O então executivo da Microsoft John Wood passava férias no Nepal, onde escalava a Cordilheira do Himalaia. Nascia ali a inspiração para criar a Room to Read (Quarto para Ler), uma organização sem fins lucrativos que trabalha para erradicar o analfabetismo infantil em regiões vulneráveis do mundo.

A entidade, que também visa reduzir a desigualdade de gênero na educação de meninos e meninas, constrói bibliotecas em localidades pobres. Passados 15 anos, já foram construídas 17,5 mil bibliotecas e 1 mil escolas que beneficiaram cerca de dez milhões de crianças.

“A ideia surgiu do nada. Gostaria de poder dizer que sempre desenvolvi trabalhos filantrópicos, mas a realidade era que eu me focava em mim mesmo, em minha carreira, em quanto dinheiro eu tinha na minha conta bancária”, lembra Wood à BBC.

Wood decidiu abandonar o emprego na Microsoft para se dedicar em tempo integral à alfabetização de crianças no Nepal

O ex-executivo de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo visitava à época uma escola na cidade montanhosa de Bahundanda. Havia ali uma biblioteca, mas apenas poucos livros deixados por antigos visitantes. Um deles era Finnegan’s Wake, de James Joyce, e um guia Lonely Planet sobre a Mongólia.

Valor dos livros
Além disso, os livros eram considerados tão preciosos que permaneciam guardados em um armário trancado e nunca emprestados às crianças.

Quando Wood deixou o local, o diretor da escola lhe disse que, se alguma vez ele voltasse, poderia trazer mais alguns livros.

De imediato, ele sabia o que tinha de fazer. A biblioteca vazia lhe fez lembrar de sua infância. “Cresci em uma família que amava ler e sempre deu valor a palavra escrita”, diz ele. “Eu tropecei na causa certa no lugar certo e no tempo certo”.

Um ano mais tarde, ele voltou à mesma escola com 3 mil livros. A reação das crianças confirmou que ele estava indo no caminho certo.

Demissão
Wood decidiu abandonar o emprego na Microsoft para se dedicar em tempo integral à alfabetização de crianças no Nepal.

Dinesh Shrestha, que até então trabalhava na erradicação da pólio para uma ONG local, se juntou a ele. O trabalho de construir bibliotecas no Nepal começava naquele momento.

Meses depois, outra executiva americana e amiga de longa data de Wood, Erin Ganju, que trabalhava no Vietnã, voltou a entrar em contato com ele.

Em seguida, ela também abandonou seu trabalho, e os três ─ John, Dinesh e Erin ─ tornaram-se cofundadores da Room to Read, uma organização sem fins lucrativos que atua em 10 países.

Ganju trouxe consigo a consciência da necessidade de construir a “escalabilidade” do projeto ─ ou seja, o que desse certo em 10 escolas daria certo em 1 mil escolas.

Apesar de tantos revezes, os fundadores da ‘Room to Read’ têm grandes ambições: atingir outras 5 milhões de crianças até 2020

Tanto ela quanto Wood enfatizam os valores “inegociáveis” na forma como o Room to Read opera. A primeira regra de ouro é buscar o apoio das autoridades nos países onde a ONG vai atuar. “Frequentemente, eu digo que o ‘não’ em ‘organizações não-governamentais’ não significa que você precisa ignorar o governo”, diz Wood.

“Nós gostamos de trabalhar com base em um acordo tripartido ─ o Room to Read entra com o capital e treinamento e a comunidade local fornece o trabalho e alguns materiais. Já a terceira parte é o Ministério da Educação ─ eles são responsáveis pelos professores e bibliotecários, e pagam seus salários. Esse é o nosso acordo tácito. Sem eles, não conseguimos trabalhar”.

Idiomas locais
A ‘Room to Read’ também adere aos princípios básicos sobre a forma como as crianças são educadas. A ONG trabalha no idioma da comunidade local ─ apesar de que isso significa publicar seus próprios livros e materiais didáticos.

Desde então, foram publicados quase 1 mil títulos de livros para crianças em dezenas de idiomas, de chinayanja na Zâmbia ao khmer no Camboja, do telugu na Índia ao xitsonga na África do Sul. Sempre que possível, Wood chama autores, ilustradores e editoras locais para colaborar com o projeto.

Por causa disso, o ‘Room to Read’ se tornou “a maior editora de livros infantis que você já ouviu falar”.
Apesar de seu passado como executivo da Microsoft, Wood ainda não está convencido do potencial da tecnologia digital em seu trabalho.

De novo, as mesmas regras se aplicam. As bibliotecas têm de seguir alguns padrões. Elas são frequentemente grandes o suficiente para acomodar até 40 crianças de uma só vez.

Mensurando o progresso
“Os livros nas estantes têm de estar no nível do olho da criança, não podem estar atrás de vidros, não há armários trancados”.

“Todo o mobiliário é adaptado ao tamanho das crianças, o chão também, há pôsteres na parede e mapas do mundo. Incentivamos as crianças a levar os livros para casa e acompanhamos semanalmente quantas fazem isso”.
Tudo é monitorado de perto, estatísticas são coletadas e o progresso das crianças é avaliado. Dessa forma, a Room to Read consegue mensurar qual tipo de apoio é necessário”.

A metodologia de ensino segue o padrão do método fônico, considerado o mais efetivo para crianças que chegam à escola com pouca ou nenhuma exposição a textos.

Igualdade de gênero
O ‘Room to Read’ tem um segundo objetivo igualmente ambicioso ─ a igualdade de gênero na educação.
Criado e gestado pela ONG, o programa ‘Educação para Meninas’ foca no período em que as meninas entram e deixam a educação secundária. Há oficinas, acampamentos para o aprendizado de habilidades técnicas e ajuda financeira para famílias que deixam as filhas na escola.

“Prover educação para meninas é de extrema necessidade no mundo da filantropia”, diz Wood.
“A cada 190 libras (R$ 1.130) arrecadadas, nós conseguimos colocar uma menina na escola por um ano. Se essa menina for educada, ela ganha mais dinheiro, casa-se mais tarde, empodera-se, é vista com mais seriedade pela sociedade”.

Os desafios, no entanto, podem soar intimidatórios, como o sequestro das estudantes na Nigéria pelo grupo extremista Boko Haram.

“Esses grupos querem que fiquemos depressivos e frustrados, mas isso leva à indecisão e à inação. O antídoto para essas forças que nos puxam para baixo é a ação. Vamos colocar quantas meninas pudermos nas escolas ─ essa deve ser a nossa resposta”, afirma Wood.

Terremoto
Outros desafios são os desastres naturais. Wood foi ao Nepal para ver os danos causados pelo terremoto deste ano.
Foi uma experiência “desoladora”, mas Wood diz ter se inspirado na determinação das pessoas para continuar o trabalho em escolas improvisadas. O desfecho foi um acordo inicial para ajudar o governo a reconstruir 66 escolas.

Apesar de tantos revezes, os fundadores da ‘Room to Read’ têm grandes ambições: atingir outras 5 milhões de crianças até 2020.

Fonte: http://www.ecodesenvolvimento.org/posts/2015/outubro/a-incrivel-historia-do-executivo-que-largou-a#ixzz3wxF8d2kL
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