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Plataforma oferece aulas de inglês com moradoras de rua de Nova York

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O que não falta na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, são norte-americanos que sabem falar inglês. Coincidentemente, também não faltam pessoas em diversas partes do mundo interessadas em aprender a mesma língua.

Unindo o útil ao agradável, o paulistano Tiago Noel Souza, 31, e o potiguar Felipe Marinho, 40, decidiram criar o Soulphia, uma plataforma com aulas de inglês oferecidas por professores norte-americanos a alunos de todo o mundo. Ou melhor, professoras que são moradoras de rua e de abrigos.

Em linhas gerais, esse é o Soulphia, projeto social que combina aulas de inglês com preços mais competitivos do que os outros do mercado à oportunidade de renda e empoderamento de mulheres em situação de risco.

“Os moradores de rua homens, ainda que em uma situação de risco, são chamados para fazer trabalhos físicos e manuais, tal como construção civil. Vimos, então, que quem mais precisava de ajuda social eram as mulheres, pois elas tinham menos oportunidades do que eles. Assim pensamos em criar alguma coisa para que elas tivessem a chance de ter um trabalho e uma renda”, explica Souza, em entrevista à GALILEU.

Souza e seu parceiro, Marinho, – ambos executivos – conheceram a situação de perto após migrarem para o país (em oportunidades distintas: o potiguar chegou nos EUA há três anos, enquanto o paulista está ali faz um ano e meio). Além disso, foi ali que os dois também se conheceram.

Os dois faziam trabalho voluntário em alguns abrigos da cidade de Nova York e ajudavam com limpeza, entrega de comida e doações. Mas só trocaram contato mesmo em um dia de julho de 2017, quando foram apresentados em um café. Foi quando viram que tinham um interesse em comum.

“Em consequência de ir aos abrigos e conhecer muitos moradores de rua, percebemos que eles tinham um talento extraordinário e o que motivo de eles estarem naquela situação [de risco] estava muito menos relacionado com drogas ou qualquer tipo de vício e muito mais com limitações, por exemplo, questões raciais, e no caso das mulheres, por conta de histórias de abusos por parceiros ou familiares”, conta Souza.

Esse panorama foi analisado em conjunto ainda em agosto do mesmo ano, mesmo mês em que a dupla viu a possibilidade de aproveitar a familiaridade da língua inglesa dessas mulheres e mostrar como isso poderia servir como um produto para que elas gerassem renda para si próprias. Assim, em outubro de 2017, nasceu o Soulphia.

Aulas que empoderam
Trabalhar com a habilidade natural de falar inglês das mulheres em situação de risco da cidade de Nova York, treiná-las a partir de aulas de coaching, proporcionar-lhes autoconfiança, inserir uma plataforma digital e dar início às aulas virtuais com alunos de todo o mundo.

Esses são os passos que os empreendedores desenvolveram para capacitar suas tutoras, nome dado às mulheres que oferecem as aulas na plataforma. Atualmente, elas são em 25 (sendo que cinco estão em treinamento), pertencem a diferentes estados do país e estão em uma faixa etária que vai de 20 até 77 anos.

Uma vez convidadas a integrar a ‘escola’ de idioma, as tutoras passam por cursos para aprender a metodologia de ensino Soulphia e têm horas de coaching para desenvolver didática e criar habilidade de interagir virtualmente com alunos ao redor do mundo, além de aulas para aprender a utilizar a plataforma digital. Esses recursos educacionais foram desenvolvidos com a autoria da Universidade Columbia (Nova York), da Universidade Country College of Moriss (New Jersey) e a partir da parceria de outras instituições de ensino da região.

O inglês elas já sabem – tal como avalia Souza: “Existe menos necessidade de treinamento técnico e muito mais um processo de motivação. Nosso treinamento baseia-se em gerar a confiança para que elas possam desenvolver uma conversa online.”

As aulas do projeto Soulphia são estruturadas a partir de uma metodologia de ensino baseada em conversação. Em cada uma delas, a tutora apresenta um artigo, filme, música ou vídeo para discutir algum assunto com o aluno. Para se preparar para o debate, o aluno recebe o material escolhido com antecedência.

Recentemente, a Soulphia iniciou uma parceria com a Educurious, empresa da Fundação Melinda Gates, e terá a consultoria da instituição para selecionar seus conteúdos educativos.

Do outro lado da tela, o aluno interessado no serviço consegue comprar as aula conforme seu interesse – aulas avulsas (US$ 22 cada), pacote com seis aulas (US$ 18 cada) ou pacote com 14 aulas (US$ 15 cada) – e distribui-las de acordo com sua disponibilidade de dias e horários. Há também pacotes especiais para empresas.

As aulas têm duração de 45 minutos, exceto a primeira de todas, chamada “trial”, que custa US$ 7 e serve exclusivamente para descobrir em qual nível o aluno se enquadra: básico, intermediário, avançado e inglês de negócios.

“Na primeira aula, a tutora tenta entender o objetivo do aluno. Com ajuda do sistema, customiza um plano de ensino, o qual muda conforme a necessidade e a proficiência do aluno. Também sugerimos o número e frequência ideal de aulas”, explica o cofundador.

Enquanto o aluno assiste sua aula de onde quiser (só é necessário um computador e conexão com a internet), a tutora Soulphia opera o serviço didático diretamente do laboratório de informática de um abrigo da prefeitura de Nova York ou do escritório da Soulphia, um sala cedida por uma igreja local no condado de Bronx.

Passados os 45 minutos (que são transcorridos através de uma videochamada com áudio na própria plataforma Soulphia) a tutora preenche no sistema quais são as dificuldades do aluno e os avanços que ele apresentou naquela aula. Essas informações serão usadas posteriormente pela próxima tutora – o objetivo dos fundadores é que o aluno tenha várias professoras diferentes para que ele aprenda os vários “tipos” de inglês.

O aluno também tem a chance de deixar um feedback sobre a aula e a tutora, avaliando o sua experiência. Caso dê uma nota abaixo da média, a professora em questão voltará para a fase de treinamento inicial antes de dar uma próxima aula.

De acordo com Souza, até então, todas as tutoras da Soulphia conseguiram evoluir sem dificuldade.

Assim, enquanto o aluno aprende um inglês originalmente dos Estados Unidos, sua tutora, uma mulher em situação de vulnerabilidade, garante uma renda para melhorar de condição de vida: as professoras do Soulphia ficam com aproximadamente dois terços do valor de cada aula.

O outro um terço do valor das aulas tem dois destinos: serve para reinvestir em treinar mais tutoras para a plataforma e para a manutenção de um projeto social de aulas de inglês para meninas em situação de risco que vivem no orfanato Vila Betânia, no Recife.

Voos futuros
No momento, a plataforma contém a inscrição de 300 alunos, muitos dos quais são brasileiros vivendo no Brasil e nos Estados Unidos. Há também estudantes no Chile, Colômbia, Venezuela, Argentina e China.

Enquanto um dos objetivos dos sócios é chegar em mais países e impactar mais pessoas – e, consequentemente, oferecer mais oportunidade a mais mulheres em situação de risco de Nova York (a projeção é alcançar 120 mil em cinco anos) –, eles também querem melhorar a experiência do usuário.

Para tanto, estão desenvolvendo em parceria com empresas de tecnologia uma sala em realidade virtual para que as aulas possam ser mais didática e imersivas.

“Com um óculos de realidade virtual, o aluno e o professor vivenciarão a experiência do tema do aula. Por exemplo, se a aula for sobre restaurantes na Times Square [avenida nova-iorquina], o aluno e a tutora irão virtualmente passear por lá e percorrer o ambiente como se fosse real”, avalia Souza.

A previsão é que esse novo recurso fique disponível em formato piloto a partir de julho e seja liberado aos poucos. Vale mencionar que ele só será possível para alunos que possuam um óculos de realidade virtual ou o cardboard, da Google.

Fazendo uso ou não da ferramenta imersiva, os alunos Soulphia ganham certificados durante a passagem dos níveis do curso e até chegar ao último estágio, que é o inglês de negócios.

“Nossas aulas são boas, nossas tutoras são boas e o custo da aula não é tão alto quanto um professor regular nos Estados Unidos. O mais legal é que tudo acontece com um tom de vida real norte-americana”, analisa Souza, que também pontua o lado social do projeto. “Para as mulheres, essa é uma oportunidade de ter uma vida melhor, porque elas estão acreditando em si. Algumas já saíram da Soulphia e foram trabalhar em outras empresas, outras já conseguiram alugar suas próprias casas. Vemos o Soulphia como uma chance de mudar a vida delas.”

Fonte: Galileu

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