Entre os mais de 8 milhões de alunos matriculados em universidades brasileiras, 488 têm o transtorno do espectro autista (TEA). Desses, 212 estão em instituições de ensino públicas e 276, em privadas. Um dos representantes do grupo é Junior do Nascimento, de 25 anos, que foi aprovado em ciência da computação em 2018.
No Dia da Conscientização do Autismo, o jovem conta como é ter dificuldades de socialização e, ainda assim, conseguir chegar ao ensino superior – em salas de aula cheias e barulhentas, tão incômodas a alguém com TEA. Ele relata que a terapia, os professores da escola e a família fizeram com que não enxergasse o transtorno como um impedimento para ter uma profissão.
A nomenclatura mais moderna, de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, é mesmo a sigla “TEA”. “É um imenso guarda-chuva que inclui pessoas em diferentes condições. Em um extremo, há pacientes com desenvolvimento avançado, mas com dificuldades de interação social, e em outro, aqueles que podem não desenvolver a fala, por exemplo”, explica o professor Celso Goyos, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
A pediatra e blogueira Ana Escobar diz que o TEA, como o próprio nome aponta, é um “espectro.” Isso significa que várias condições ligadas ao autismo foram englobadas em um único diagnóstico.
Dos alunos de universidades brasileiras com TEA, 255 deles têm sintomas do chamado “autismo clássico”, que costuma ser diagnosticado por volta dos 3 anos de idade. Entre os sinais mais comuns desse quadro, podem estar:
No outro extremo, chamado Síndrome de Asperger, estão 233 alunos – dentre eles, Junior. Nesses casos, o desenvolvimento da linguagem pode até ser equivalente ao da média das crianças. Mas há sinais como:
O professor da Ufscar explica que nem todos os alunos com TEA têm condições de chegar ao ensino superior. Mas que é possível dirigir esforços para isso. “O espectro é muito amplo. Mesmo sabendo que um paciente talvez não consiga ir à universidade, precisamos dar a condição de ele atingir seu desempenho máximo”, explica.
“Sabemos que há tratamentos eficazes e terapias precoces. Tudo deve começar assim que os primeiros sintomas forem percebidos. Se a criança for submetida a uma intervenção de qualidade, com profissionais qualificados, pode ter bons resultados”, explica.
Ele complementa dizendo que, além da terapia, é importante também que a escola e família estejam presentes na busca pela inclusão.
Junior conta que tem dificuldades em interação social. “Quando estou com uma pessoa apenas, consigo colocar minhas ideias em ordem. Mas em grupo, tenho mais problemas”, diz. “Com anos de terapia, consigo conversar olhando nos olhos de alguém. Eu ficava observando meus colegas na escola para entender como eles funcionavam. Tento decifrar os gestos dos seres humanos de forma técnica, como se a gente fosse um algoritmo”, conclui.
O jovem relata que nunca conseguiu fazer amigos – apenas laços de amizade provisórios, de acordo com o ciclo social que está frequentando. “Eu achava que era frieza minha. Mas vejo hoje que não sei ler a linguagem corporal das pessoas e que isso não é um problema. Se eu fosse ator, tudo bem, me atrapalharia. Mas não vou ficar focando no que não é da minha natureza. Vou me dedicar ao que sou bom”, diz.
E ele é bom em informática, em programação, em cálculos. Estudou em escola pública no interior do Paraná e depois, morando no Rio de Janeiro, foi aprovado em arquitetura na PUC-Rio e na Universidade Santa Úrsula.
“Gosto de arte, mas não é minha área. Então desisti e, por recomendação da minha terapeuta, fui fazer teatro”, conta. Era uma tentativa de compreender melhor como as pessoas se relacionam e se portam em público. Por um ano e meio, enfrentou o desafio.
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