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‘Criei forças pra enfrentar a sociedade sem abaixar a cabeça’, diz brasiliense Sam Porto, primeiro homem trans a desfilar na SPFW

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Modelo desfilou para nove marcas e defendeu ‘causa trans’. Aos 25 anos, ele conta a jornada até as passarelas.

Desfilar nas passarelas do maior evento de moda do Brasil e ainda defender uma causa. Essa é a conquista celebrada pelo brasiliense Sam Porto, o primeiro homem transexual a desfilar na São Paulo Fashion Week (SPFW).

“Eu criei forças para enfrentar a sociedade sem abaixar a cabeça.”

Sam foi destaque durante a semana de moda, em outubro, na capital paulista. Ele desfilou para nove marcas e deu entrevistas para a imprensa do Brasil e do exterior.

De volta ao DF, falou da jornada até chegar nas passarelas. “O caminho não foi fácil, principalmente na infância. Foi mentalmente difícil”, afirma.

Eu sempre percebi que as pessoas me olhavam diferente. Eu via e ouvia julgamentos sobre a minha aparência, até de pessoas próximas.”

O passado

Antes de ser Sam Porto – o modelo festejado – o jovem de 25 anos se viu frente a frente com o desafio de assumir a condição de trans. O maior medo, segundo ele, era de que os pais não o entendessem.

Este “se assumir” teve dois momentos, conta. Na primeira vez, ainda na adolescência, se assumiu como lésbica. No entanto, diz ele, “não era bem isso”.

“Depois que eu comecei a me entender e me conhecer melhor, eu vi que não tinha nada a ver eu ser uma mulher lésbica. Eu sou uma pessoa trans.”

Sam revela que só teve “coragem” de conversar com os pais novamente perto de completar 17 anos. “Eu tinha medo de eles não entenderem e eu queria evitar qualquer tipo de sofrimento a mais”, explica.

A família ainda tem dificuldade em chamá-lo pelo nome masculino. Mas respeitam, diz o modelo. Sam acredita que esse respeito da família é “um privilégio” – e foi isso que o permitiu seguir adiante.

De tatuador a modelo

Em Brasília, Sam Porto trabalhava como tatuador. O mundo das passarelas é novo na vida dele.

Em 2017, decidiu “se arriscar” no Brasília Trends Fashion – um evento que reúne moda, design, arquitetura e fotografia na capital. Sam passou, então, passou a receber convites de fotógrafos para fazer editoriais.

O mesmo acontecia quando acompanhava a namorada, que é modelo, em ensaios fotográficos. Depois de um tempo, ele diz que aceitou algumas propostas e começou a postar as imagens.

Uma coisa foi puxando a outra e ele foi ganhando mais e mais convites. Em junho deste ano, foi chamado para trabalhar na SPFW, mas fez um pedido: só aceitaria se pudesse ser ele mesmo.

“Só iria participar se eu pudesse ser eu e ser respeitado como uma pessoa trans.”

A equipe apoiou e foi assim que Sam, há dois meses, largou tudo para se jogar no mundo da moda. Ele trocou Brasília por São Paulo, onde pretende investir na carreira.

“Eu saí de Brasília com o intuito de buscar a representatividade, esse era o meu foco”. Para ele, seu principal papel é representar os homens trans no mundo da moda.

Antes e depois das passarelas

Antes das passarelas, Sam conta que se sentia rejeitado. Mas o retorno que teve durante os desfiles da SPFW transformaram esse sentimento.

“Todo carinho que tô ganhando, de pessoas que nunca vi na vida, é absurdo de especial. Chega a me fazer esquecer as críticas e as pessoas más e de almas infelizes que conheci até hoje.”

Manifesto trans na passarela

Durante o desfile da marca brasileira Cavalera, o modelo fez um protesto nas passarelas. Ele escreveu “respeito trans” no corpo e se ajoelhou para os fotógrafos. Os cliques ganharam o mundo.

Sam diz que recebeu permissão para, segundo ele, “fazer o que quisesse na passarela”. O modelo conta que nada foi programado.

“Eu só me entreguei, ninguém sabia o que eu ia fazer ao certo. Me deram liberdade.”

Ele falou da emoção de poder se manifestar. “A sensação que eu tive no momento foi de implorar por respeito, por isso me ajoelhei. As pessoas precisam entender o peso dos índices de morte de pessoas trans no Brasil”, aponta.

“O que fiz foi pedir o mínimo”

Transexuais no Brasil

A cada 23 horas, uma pessoa LGBT morre no Brasil. De janeiro a 15 de maio deste ano, foram registradas 141 mortes de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.

No ano de 2018, esse número chegou a 163. Já em 2017 foram mais mortes, 179 pessoas assassinadas.

Os dados estão no relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), que é feito com base em notícias publicadas em veículos de comunicação, informações de parentes das vítimas e registros policiais. Segundo o levantamento, os estados com mais mortes em números absolutos foram:

  • São Paulo (22)
  • Bahia (14)
  • Pará (11)
  • Rio de Janeiro (9)

O número de vítimas assassinadas dentro de casa foi maior do que o em vias públicas, 36 contra 28. A principal causa da morte foi arma branca (39), seguida por arma de fogo (22), espancamento (13) e estrangulamento (8).

O que é uma pessoa transgênero?

O termo “transgênero” ou “trans” se refere a uma pessoa cuja identidade de gênero – o sentimento psicologicamente arraigado de ser um homem, uma mulher, ou nenhuma das duas categorias – não corresponde à do seu sexo de nascimento.

Transgênero inclui as pessoas que foram operadas para redesignar seu sexo, assim como as que só receberam tratamento hormonal. Mas ser “trans” não implica necessariamente ter recebido um tratamento de tipo algum.

*Sob supervisão de Maria Helena Martinho

Fonte: G1

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