Paternidades, assim como as maternidades, exigem de nós alguns sacrifícios. Mas, também, nos entrega muitos prazeres e alegrias. Laura está entrando no Maternal II e, além disso, passará o outro turno na escola para desfrutar das atividades complementares. Por ser o primeiro ano dela naquele espaço, precisamos fazer uma adaptação cuidadosa, onde não somente a Laura se adaptasse à escola, mas a escola também a ela.
Assim foi feito! Eu, enquanto um pai negro de uma menina negra, estou sempre interessado em saber qual o projeto antirracista da escola em que minha filha estudará. Isso é importante, pai! E essa pergunta não tem que ser somente do pai negro, mas do pai branco, também! A formação dos nossos filhos e das nossas filhas está sendo forjada desde muito pequenos e a escola é um espaço privilegiado para isso. E, sim, as unidades de ensino precisam ter projetos antirracistas no seu currículo escolar!
Eu, primeiro, preciso salientar que fiquei muito surpreso e feliz, pois a escola da Laura não ficou perdida com a minha presença ali! Isso é tão revolucionário! Já que, no geral, as escolas não sabem o que fazer com a figura paterna. Em muitas situações elas tendem a “usar” o pai como “mensageiro de recados” para a mãe, em relação aos cuidados com a criança.
Outra coisa importante é o fato da escola dirigir-se ao pai e à mãe como “amigo responsável” e não como “paizinho” ou “mãezinha”. Eu não sou “paizinho”! Eu sou pai! Esse diminutivo não soa como elemento pedagógico. E não, eu não estou sendo ranzinza!
Voltando à pergunta central deste bloco, quero abaixo dar algumas dicas sobre o papel do pai neste processo de adaptação escolar dos filhos.
Este é um momento muito novo na vida do seu pequeno ou da sua pequena. Assim, não adianta querer antecipar as coisas, forçar ele ou ela a ficar sozinho com pessoas desconhecidas (ainda que as educadoras e os educadores sejam as pessoas mais gentis e afetuosas, eles são estranhos para a sua criança).
Cada criança tem seu tempo, pai! Não compare a sua criança com outra criança! Nós não nos sentimos bem em sermos comparados, assim também acontece com as crianças. Sua filha ou seu filho ficará bem e sem chorar, quando sentir-se seguro. E o tempo da segurança dela ou dele é exclusivo.
Pai, vá aberto para a adaptação. Vá aberto às brincadeiras; às atividades que os educadores proporão; a divertir-se com a sua criança! Demonstrar-se rígido não ajuda.
É preciso entender junto aos educadores o momento de ir, paulatinamente, se afastando para que a criança se vincule aos profissionais da escola.
É importante atentar-se a alguns sinais silenciosos, caso a sua criança ainda não verbalize, que a criança emite para entender como ela está se relacionando com aquele espaço escolar. Se ao chegar próximo à escola ela apresenta aspectos de alegria, se ao entrar na escola, ela se sente confortável e animada, além de outros códigos que você tenha com a sua pequena ou o seu pequeno. Pai, neste processo de vinculação, são sinais importantes.
Quando a criança começar a ficar na escola sem a sua presença, fique atento ao contato da escola. Envie mensagens também para saber como ela está. Não se sinta constrangido em fazê-lo.
Converse com a criança sobre o dia dela na escola! Pergunte o que ela aprendeu naquele dia. Esteja ciente da atividade daquele dia para conversar com ela. Saiba os nomes dos amigos e amigas dela para falar um pouco sobre eles. Esse também é o momento de conversar sobre as diferenças raciais e de gênero, de forma a que ela entenda, é claro.
Observação: Pai, é importante estar atento aos recados que a escola envia sobre a sua criança. Se for um aplicativo, baixe-o no seu telefone. Se for um grupo de WhatsApp, participe dele!
Educadores e educadoras que lêem esta nossa coluna, aqui eu gostaria de lhes pedir um grande favor: não façam “grupos de mães” em aplicativos como WhatsApp. Se forem criar grupos, façam “grupo de responsáveis” e incluam os pais! Proponham as inclusões dos pais nestes grupos. O cuidado da criança é uma responsabilidade do pai e da mãe!
Pai, se a escola do seu filho ou da sua filha não estiver atenta a isso, proponha, provoque e participe! É necessário! A equidade no cuidado contribui para o melhor desenvolvimento da criança.
Por fim, pai, esse momento não é importante só para a criança, mas para toda a família! Participe dele com entusiasmo, afeto e responsabilidade, contribuindo ainda mais para a beleza deste processo na vida do seu pequeno ou da sua pequena.
Um abraço e eu vou correr aqui pra seguir colocando em dia as tarefas que ficaram atrasadas, mas muito feliz, pois a Laura está muito feliz na escola nova dela!
Historiador de formação, com especialização em desenvolvimento infantil pelo núcleo latino-americano da Universidade de Harvard, especialista em paternidades e masculinidades, consultor em projetos que incentivam o empoderamento de crianças, adolescentes e jovens negros, além de práticas antirracistas.
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