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Após ganhar prêmio internacional, Camerata Jovem do Rio viaja para apresentações na Europa

ago 21, 2019
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Grupo formado por jovens que moram em comunidades do RJ ganhou o Swiss Charity Award 2019 e fará concertos na Suíça e na Alemanha.

Em meio ao burburinho do Centro do Rio, existe uma sala um tanto quanto escondida que reúne o som de jovens talentos que estavam espalhados pelo estado. São 19 meninos e meninas, com idades entre 17 e 23 anos, que vieram de várias favelas e hoje fazem parte da Camerata Jovem do Rio — um dos grupos do projeto Ação Social pela Música do Brasil (ASMB).

Na próxima terça-feira (20), eles estarão de malas prontas para receber o reconhecimento de muito esforço e talento: os jovens ganharam o Swiss Charity Award 2019 e vão fazer várias apresentações na Suíça e na Alemanha. O grupo do Rio de Janeiro foi escolhido entre jovens de 40 países.

“Nós ficamos muito felizes de ter aberto essa janela para eles, dentro da situação que eles vivem, e poder mostrar eles para o mundo. Abrir essa janela: ‘Olha os talentos do Rio de janeiro'”, diz Fiorella Solares, diretora-geral da ASMB.

Além da noite da premiação, o grupo também foi convidado para tocar no Tonhalle de Zurique, em comemoração aos 100 anos da ONG Save the Children. Em seguida, eles farão um concerto no Palácio das Nações, sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, e também na Basiléia. Depois, os jovens vão para a Alemanha, onde farão apresentações em Dusseldorf e Berlim.

Essa não é a primeira viagem internacional do grupo. No ano passado,eles se apresentaram na sede da ONU, em Nova York, nos Estados Unidos. Cada uma dessas oportunidades é uma conquista graças à dedicação desses jovens à música.

“A gente fica um pouco surpreso ao ver os caminhos que a música nos leva porque se você parar pra pensar, nós somos músicos de um projeto social e todos nós viemos da favela, com uma realidade totalmente diferente. Acho que ninguém nunca imaginou ganhar um prêmio concorrendo com outras pessoas que, provavelmente, não tem a mesma realidade que nós”, diz Gilbert Vilela, de 21 anos.

‘O que aprendo, eu transmito’

A história de Gilbert na música começou antes de ele entrar para a Camerata Jovem do Rio. Hoje com 21 anos, ele tocava num outro projeto que acabou por conta de um corte de verba, mas nem por isso ele se afastou da música. Ao ser remanejado para o grupo da ASMB, ele conheceu o violino.

Morador do Morro da Providência, no Centro do Rio, ele também dá aulas de música para crianças da comunidade e toca em uma roda de samba no bar de sua avó.

“Eu sou um músico da favela, um dos poucos que tem lá. É como se eu fosse um instrumento de conexão. O que aprendo, eu transmito. A arte está muito desvalorizada no nosso país. A gente tem que acreditar que vai ter uma melhora, uma mudança, que nós seremos valorizados”, diz Gilbert.

Assim como Gilbert, David Nascimento, de 23 anos, também veio de uma comunidade do Rio. Hoje, ele faz faculdade de música na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e toca contrabaixo na Camerata Jovem.

“Ando na rua, ando na comunidade sempre com um ‘trambolho’ nas costas. Chama muita atenção [o instrumento], mas fico honrado em poder fazer isso, fazer arte onde está difícil. Chama atenção das crianças. ‘Tio, o que é isso? É um violino gigante? Uma guitarra gigante? Isso me deixa muito comovido. Eu sempre explico ‘não, isso é um contrabaixo’”, diz David.

A inspiração para o estudante vai além. Ao G1, ele contou como a música transformou a sua vida.

“Quando vejo outros amigos meus indo pra outro lado da vida e eu vejo que a música me trouxe isso, me trouxe viver, me trouxe esperança para um futuro melhor. Quando entrei no projeto que tive que tomar a rédea, tinha que ter notas boas, estar indo pra escola. Eu também andava com pessoas que não eram boas pra mim. Quando eu conheci a música, passei a ter outros exemplos de vida”, afirma o estudante.

Um dos sonhos de Larissa Santos, de 22 anos, também está perto de ser alcançado. Ela fará pela primeira vez uma viagem internacional e conta que essa vai ser uma realização através da música.

“É a primeira vez que eu viajo pra Europa. O meu sonho, desde criança, sempre foi viajar pra Alemanha e esse ano vai acontecer. A música vai realizar meu sonho. Passa um filme porque eu nunca pensei que eu ia alcançar um dia isso, que alcançaria esse objetivo. Era um sonho de criança, mas eu nunca pensei que seria na música”, diz Larissa.

Convite de prefeito alemão

Uma das apresentações mais esperadas, segundo Fiorella, será no dia 1º de setembro.

“Eles têm dois concertos em Ratingen, mas o mais importante é que eles vão tocar no Dia da Democracia, 1º de setembro. Esse é um convite do prefeito da cidade de Dusseldorf e ele vai estar recebendo vários prefeitos da Europa. Nada mais importante para o ASMB que ter um grupo de jovens cariocas, com tanta brasilidade, talento, beleza, representando o Brasil nesse dia em uma comemoração da Alemanha”, destacou Fiorella.

A diretora do grupo ressalta ainda que esse será o momento de pensar no significado dessa conquista para o grupo de jovens de comunidades do Rio de Janeiro.

“É algo que me chama muito a atenção pensar ‘o que significa tudo isso’? O Brasil levando seus jovens para comemorar o Dia da Democracia num país avançado, que é dono e senhor da sua democracia”, diz Fiorella.

Fonte: G1

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