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Baiana dá aulas de natação na praia a quem não pode pagar

mar 29, 2018
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Sulamita Araújo faz do Porto da Barra seu espaço de ensino há 17 anos.

Na praia, contudo, ela não atende pelo nome. É a professora Peixinho, uma mulher cheia de energia que rege a turma com assobios, ordens de exercício, rigidez, sorrisos e muita conversa.

Na Escola Peixinho Natação Porto da Barra, bebês, crianças, jovens e adultos têm aulas de natação com a baiana de 52 anos seis vezes por semana (às vezes sete) nas águas calmas e cristalinas da Baía de Todos os Santos.

Atualmente, são 105 alunos. Do total, 70 são isentos da mensalidade de R$ 250. São crianças e adolescentes cujos pais não podem arcar com aulas de natação ou até mesmo adultos que trabalham, mas não poderiam encaixar as braçadas no orçamento.

“Muita gente acha que estou fazendo caridade, mas não é isso. Eu só quero dar uma chance a quem não pode pagar um clube ou uma academia. E até a quem poderia pagar, mas ainda sofre preconceito nesses lugares. Aqui tem gay, casal homossexual, tem negro, tenho uma aluna com um problema de saúde que um clube não aceitaria. Aqui, botou a touca, são pessoas iguais. Médico, porteiro, professora, estudante, desembargadora ou desempregado, não tem diferença nenhuma”, define Peixinho.

Pagando ou não a mensalidade, todos os integrantes da escola ganham da professora, diariamente, um café da manhã na areia da praia, com frutas, pães e suco. Aos sábados, a variedade é maior. Se alguém faz aniversário, ganha bolo, cachorro quente e salgados.

Rotina intensa

A escola também organiza viagens para provas de maratona aquática, especialmente a Travessia dos Fortes e a Rei e Rainha do Mar, ambas no Rio de Janeiro. Também neste caso, os alunos que podem arcam com seus custos de inscrição, passagens, hospedagem e alimentação. Para os que não conseguem, entra Peixinho.

“Ela é uma dessas pessoas que a gente encontra no Brasil e que deveria ser um espelho, como professora de natação e como educadora física. Ela se sacrifica, se dedica ao coletivo. Nós só podemos aplaudir”, afirma Luiz Lima, ex-nadador profissional com participação em duas olimpíadas, Atlanta 1996 e Sydney 2000.

Organizador da prova Rei e Rainha do Mar, Lima também mantém um projeto social com natação no Rio de Janeiro. Para ele, o trabalho de Peixinho tem o mérito de ser “democrático nas duas pontas”.

“Não é só assistência social. Ela usa a natação para formar cidadãos e ainda dá a oportunidade a quem quiser progredir enquanto atleta, botando pra competir”, observa.

Para conseguir bancar os custos das aulas, dos materiais e das viagens dos alunos – e pagar as próprias contas – Peixinho dispõe de um leque variado de rendas, cujos valores prefere não revelar.

Além das mensalidades de quem paga pela natação na praia, ela dá aulas na piscina de um condomínio próximo ao Porto, realiza recreação em festas infantis e faz sessões de massagem watsu, uma técnica de relaxamento executada, é claro, na água. Seus dias, entretanto, são prioritariamente no Porto, onde dá aulas de manhã, pela tarde e à noite.

“Ela não descansa, não tem férias nem folga. Desce pra praia no sol, na chuva, com trovoada, desce até com dor de dente. Só tem dois dias do ano que ela não dá aula: Natal e 1º de janeiro, que é o aniversário dela. Mesmo assim, não duvido que ela desça se aparecer um aluno”, diz Priscila Jatobá, que nada com Peixinho há 10 anos e hoje auxilia na gestão da escola.

Fonte: BBC

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