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Megaoperação devolve aos rios da Amazônia o maior número de peixes-bois da história

abr 6, 2018
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A maior soltura de peixes-bois já realizada no Brasil aconteceu entre os dias 31 de março e 02 de abril. A operação contou com cerca de 30 profissionais. Até o momento já são 22 animais devolvidos aos rios da Amazônia.

Rudá, Naiá, Adana, Aboré, Baré, Anori, Caburi, Piracauera, Itacoati e Gurupá. A idade estimada desses peixes-bois da Amazônia (Trichechus inunguis) varia de quatro a 16 anos. Em cativeiro, dos três aos 15 anos. Todos chegaram ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) ainda filhotes e órfãos. Agora, jovens adultos, dez animais voltam à natureza para reiniciarem mais um ciclo da vida.

A maior soltura de peixes-bois já realizada no Brasil aconteceu entre os dias 31 de março a 02 de abril. O “milagre” de páscoa contou com batalhão formado por profissionais, envolvendo biólogos, veterinários, tratadores, técnicos e demais especialistas do Inpa. A operação contou ainda com profissionais convidados vindos do Japão e do Aquário de São Paulo – parceiros do projeto – do Peru, do Centro de Mamíferos Aquáticos do ICMBio (Santos-SP), Universidade Federal de Londrina e o Centro de Mamíferos Aquáticos de Preservação de Balbina (AM). Ao todo, a soltura contou com cerca de 30 pessoas.

Um a um, dez dos 23 peixes-bois foram retirados de um lago de piscicultura, o semicativeiro, que fica no Município de Manacapuru (a 84 km de distância de Manaus) e transportados para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu Purus, no Rio Purus. Antes de serem soltos, os animais foram recepcionados pela comunidade de Itapuru, onde dezenas de crianças aguardavam ansiosamente com cartazes e músicas de boas-vindas.

Com a nova soltura, o Programa de Reintrodução de Peixes-bois da Amazônia do Inpa devolve aos rios 22 animais. Coordenado pela pesquisadora do Inpa Vera Silva, líder do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA), o programa atua em parceria com o Projeto Museu na Floresta, uma cooperação científica entre o Inpa e a Universidade de Kyoto (Japão), e a Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa).  Também apoiam o programa a Agência de Cooperação Internacional (Jica), a Mistsuba e a Itochu.

Para a pequena Isabele Silva, 9, que segurava um cartaz dando boas-vindas à Adana (um peixe-boi fêmea) a ideia de trazer os animais para a comunidade conhecer foi aprovada. “Eu toquei em dois animais que ‘tavam’ mais calminhos. O Diogo disse que os outros ‘tavam’ cansados da viagem e queriam logo ir pro rio, daí a gente não podia pegar nesses. Mas eles são tão fofinhos”, comemora.

A proposta do programa é que a própria comunidade ajude no monitoramento dos novos moradores, evitando possíveis caçadores pelas redondezas.

De Itapuru, os animais foram levados ao Lago do Trapinho, próximo à comunidade, e finalmente foram devolvidos aos rios amazônicos. Sete foram reintroduzidos no primeiro dia (1º de abril, Feriado da Páscoa) e os outros três na manhã do dia seguinte (02). Pelos próximos dois dias, biólogos do Inpa e do Japão vão monitorar os primeiros passos dos animais longe do lago.

Monitoramento

Uma das novidades deste ano é que pela primeira vez apenas cinco dos dez peixes-bois foram soltos sem o cinto de monitoramento (telemetria). Segundo a coordenadora do projeto, a pesquisadora do Inpa Vera Silva, isso foi feito com base em experiências anteriores que apresentaram sucesso significativo. “Foi verificado que os animais estão aptos a sobreviverem sozinhos na natureza”, garante. Outro êxito do trabalho é a volta do peixe-boi fêmea Anori (nome do município em que foi resgatada) estar voltando ao local de origem.

A pesquisadora acrescenta que desde o início do projeto, em 1974, quando o Instituto recebeu o primeiro peixe-boi, a ideia sempre foi de reabilitar e conduzir os animais de volta ao seu habitat. “A convivência faz com que você se apegue aos peixes-bois, uns mais que outros, mas o objetivo do projeto sempre foi esse, de trazê-los novamente à natureza”, conta.

Para o biólogo à frente do projeto, Diogo Souza, a operação foi um sucesso. “Os dez animais foram reintroduzidos tranquilamente pela equipe e a agora partirmos para a próxima etapa. O monitoramento diário da espécie já começa”, diz ao acrescentar que a análise dos dados inicias é fundamental para saber se eles vão se adaptar novamente à natureza e entender a ecologia do peixe-boi. “Essas informações são importantes para traçarmos a estratégia de manejo e conservação da espécie”, afirma.

Souza garante que tudo saiu conforme o planejado. “Apesar de alguns dos animais demonstrarem momentos de estresse, o que é normal em uma grande operação como esta, a nossa equipe é bem qualificada e conseguiu sanar isso”, analisa.

O desafio dos animais agora é o de se integrar novamente àquele que um dia já foi seu habitat. A tarefa deles consiste em reaprender a estar no rio como lidar com o pulso de inundação sabendo quando é período de cheia e seca, buscar alimento, reconhecer o ambiente e sentir a Amazônia. O que pode parecer uma condição natural em se tratando de animais silvestres acaba se tornando uma atividade difícil, já que tiveram o ciclo natural interrompido no momento em que foram vítimas dos caçadores.

Etapas da liberdade

Os peixes-bois chegam ao Instituto filhotes e órfãos. Eles tiveram as mães foram capturadas e mortas por caçadores. Nos tanques do Bosque da Ciência do Inpa os animais ficam, em média, um período de 3 a 6 anos no cativeiro, onde são alimentados e acompanhados por veterinários, técnicos e tratadores. Ao atingirem a juventude, os peixes-bois são encaminhados para a fase seguinte, a de semicativeiro, um lago de piscicultura que fica localizado em uma fazenda de Manacapuru.

Longe dos tanques do Inpa, a autonomia dos animais no semicativeiro é maior. Nesta fase, em comparação à primeira, o contato com homem é cada vez menor. No lago, o peixe-boi passa a alimentar-se a maioria das vezes sozinho, em um local muito similar ao natural. A ideia é que o animal vá se familiarizando com o ambiente. O semicativeiro é a fase intermediária do projeto. Após essa fase de adaptação, a fase final é a de reintrodução dos peixes-bois à natureza, onde são soltos e monitorados por mais dois anos pelos especialistas do Inpa, sempre com a ajuda dos comunitários.

Atividades Futuras

Ainda para este ano de 2018, a expectativa é que 15 peixes-bois sejam transferidos do Inpa, onde há mais de 50 animais, para o semicativeiro em Manacapuru. Para 2019-2020, o objetivo é que mais 20 peixes-bois sejam reintroduzidos na RDS Piagaçu-Purus, e no mesmo período fazer a translocação de 25 animais do cativeiro do Inpa para o semicativeiro em Manacapuru.

Fonte: INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia)

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